Os Master in Business Administration (MBA) de Harvard e Stanford são dois dos mais conceituados programas do mundo (se não os mais conceituados) na formação de gestores. Um programa com mais de um século de existência cujo formato continua fiel à sua origem: presencial e a tempo inteiro. Mas será que nos dias de hoje faz sentido não ter pelo menos um MBA para executivos como fazem praticamente todas as outras escolas?
A justificação para esta decisão era simples: um programa desta qualidade exige tempo (daí ser a tempo inteiro) e interação (daí ser presencial). O programa tem a duração de dois anos e custa cerca de 250 mil euros. Propinas suficientemente elevadas para poder pagar os melhores professores do mundo.
À medida que as restantes escolas iam evoluindo, lançando programas MBAs para executivos com formatos mais flexíveis (aulas aos fins de semana, semanas presenciais ou formatos mistos presenciais e online), escolas como Harvard e Stanford optaram por manter-se fiéis às origens, desvalorizando a formação online para executivos. Até que chegou a pandemia e fechou os campus.
Reprovados
Não foi só Harvard e Standord a sofrer com a pandemia. O Covid-19 “infetou” o modelo de negócio da esmagadora maioria das escolas que viviam essencialmente de propinas de programas presenciais. O grande problema destas duas escolas é que não tinham alternativas nem experiência para se adaptarem rapidamente à nova realidade. Wharton, por exemplo, outra das mais prestigiadas escolas mundiais, já há vários anos que tinha MBA para executivos, mas era essencialmente presencial. Quando foi obrigada a fechar as portas, Wharton decidiu terminar o ano letivo através de aulas online e foi processada por centenas de alunos, que exigiram o reembolso de pelo menos parte das propinas (cerca de 170 mil euros).
Aprovados
Mas há sempre quem beneficie das crises. O Instituto Impresa (IE), em Espanha, e a Haute Ecole de Commerce (HEC), em França, começaram a apostar na formação online de Executivos há vários anos, conquistando um precioso know-how nesse tipo de formações. Os seus programas mais emblemáticos, incluindo os MBA, são online ou mistos e competem com os mais prestigiados do mundo nos rankings de referência do Financial Times e The Economist. Para estas escolas, adaptarem os programas presenciais ou mistos a exclusivamente online foi uma questão de semanas. As plataformas estavam montadas, os professores estavam rotinados e os alunos era esse formato que procuravam.
O futuro
A formação de executivos há muito que vivia num impasse. A tecnologia existia, mas as pressões para manter um modelo que funcionou tão bem durante um século impediam as Escolas de Negócios de romper com o passado e propor programas mais flexíveis em termos de programas e formatos. Cada vez mais os executivos procuram programas modulares feitos à medida das suas necessidades. Um programa fechado do tipo MBA corresponde cada vez menos a esses critérios. O mesmo acontece com o formato. Os programas a tempo inteiro têm cada vez menos adeptos. Mesmo os mais jovens preferem começar mais cedo a carreira profissional e continuar a formar-se ao longo da carreira. Formatos do tipo fim-de-semana alternados são também cada vez menos utilizados já que atraem essencialmente alunos que vivem a pouca distância. Os formatos online com alguns blocos de aulas presenciais, como já fazem muitas escolas europeias, é o que reúne atualmente a preferência da maioria dos alunos. E caso os campus fechem, não há problema, a vida continua…
O regresso das Universidades
Neste novo “normal” quem vão ser as escolas de referência? Vamos ver escolas como INSEAD ou IE ultrapassar as aparentemente intocáveis Harvard e Stanford? Não é bem assim. O branding destas escolas continua a ter um valor inestimável e vão certamente aprender com os erros cometidos no passado. Hoje em dia, adotar as novas tecnologias não é o mais complicado nem sequer o mais dispendioso.
Desde a sua criação, as escolas de negócios sempre estiveram separadas das universidades. As escolas de negócios criticavam as universidades por estas serem demasiado académicas e afastadas da realidade e as universidades acusavam as escolas de negócios de ausência de rigor científico. O capitalismo ditou que fossem as escolas de negócio a vencer este braço de ferro. Os melhores professores escolhiam as escolas de negócios porque eram mais bem pagos e os melhores alunos escolhiam as escolas de negócios porque tinham os melhores professores e porque garantiam empregos com melhores salários. Um ciclo vicioso que foi arrastando os programas universitários de gestão para segundo plano.
Até que os efeitos das alterações climáticas começaram a ser cada vez mais notórios, que os conflitos sociais se tornaram demasiado complicados de resolver, que um simples vírus paralisou todo o planeta, e que a sociedade percebeu que sem universidades não há ciência e que sem ciência não há respostas para os desafios que o mundo hoje atravessa.