De 11 a 18 de outubro a Philharmonie ilumina-se mais uma vez de azul, a cor do festival Atlântico, que na quinta edição recebe Camané acompanhado por Mário Laginha e Dead Combo em dose dupla, entre outros, e a projeção com música ao vivo do clássico do cinema português “TÁXI N° 9297”.
Foram a surpresa – chamemos-lhe ousada -, da primeira edição do festival Atlântico ao esgotarem a sala. Falamos de Dead Combo. A dupla, que anunciou a separação em novembro de 2019, vem com o seu “Fim” em que no palco só há espaço para Tó Trips e Pedro Gonçalves com o seu universo musical tocado com guitarras elétricas e acústicas. Um universo de música contemporânea e música popular de Lisboa. “É como que um ato simbólico”, explica Francisco Sassetti, responsável da programação, sobre este regresso, ao mesmo tempo que garante ter sido “um concerto memorável e diferente e que faz sentido reviver”. As personagens criadas por si, os próprios músicos, as suas histórias teatrais e os acordes das suas guitarras fazem-se acontecer a 16 e 17 de outubro.
A representar o fado vem Camané. A organização podia ir pelo caminho mais fácil e seria sucesso. Mas não! Mário Laginha acompanha Camané numa fusão de jazz e fado num projeto que os dois têm trabalhado. A eles junta-se a fadista Ana Sofia Varela. Este concerto de abertura, no dia 11, foi uma sugestão da própria casa. “É dentro do fado, mas com uma dinâmica diferente e um concerto diferente”, remata Sassetti. Se houvessem dúvidas sobre a multiplicidade do festival, terminariam aqui com esta junção de estilos.
É no dia 14, com o concerto do bandolinista brasileiro Hamilton de Hollanda e o pianista espanhol Chano Dominguez, que acontecerá outro momento promissor: a ponte musical da MPB com o flamengo do improviso. “São dois músicos de altíssimo calibre com Hamilton que tem a tradição, dinâmica e alegria da MPB com um pianista de tradição de jazz flamengo”, explica o organizador.
Cabo Verde está representado por Elide Almeida. A jovem cantora é a encarnação “da diversidade e riqueza musical de Cabo Verde”, garante Francisco Sassetti, e ao mesmo tempo da conjugação de intercâmbios e das influências musicais díspares que ouve. Nascida em 1993 é uma voz jovem, afável, alegre e quente. O concerto é na noite de dia 15 e será mais um momento único do festival ou não fosse a música cabo-verdiana tão apreciada, respeitada e conhecida por todo o mundo.
Nem só de música se faz um Atlântico
Não, não faz. O festival habituou o público a pontes musicais e a encontros inusitados, que dificilmente teriam espaço noutro lugar, mas tem também um programa paralelo e heterogéneo. E este ano tem uma aposta de peso: o clássico mudo do cinema português “O Táxi N° 9297”, de Reinaldo Ferreira, é projetado com música ao vivo composta pelo jovem compositor Igor C. Silva. Para Sassetti é “um projeto especial e também difícil, mas que faz sentido. É um filme mudo dos anos 20, restaurado pela Cinemateca de Lisboa e que chega através de uma parceria entre a Casa da Música do Porto e a Philharmonie”. O cinema clássico português fricciona-se com a sonoplastia contemporânea. “É um projeto diferente e o mais relevante [desta edição]”, concluiu.
Também pela primeira vez, e inserido no ciclo “Yoga&Atlântico”, chega um evento diferente. As sessões de ioga da Philharmonie já são conhecidas, mas nesta semana vão explorar o repertório clássico português e de toda a lusofonia. Certo é que se vai ouvir Luís de Freitas Branco e une-se um público diferente ao festival.
E como já é habitual há um projeto educativo, mais uma vez a cargo do coletivo Sete Lágrimas, numa produção da própria casa. “É o terceiro episódio de um projeto que é teatro musical que explora o tema e o papel de Portugal no mundo de forma pedagógica para crianças dos cinco aos nove anos”, diz Francisco Sassetti. Depois do êxito das temporadas anteriores, volta a ser apresentado ao longo da temporada na Philharmonie.
Cinco anos de festival
Estávamos em abril de 2016 e a Philharmonie apresentava a temporada seguinte. No programa havia um festival inédito e dedicado às tradições musicais lusófonas. Apresentava-se como um festival feito de pontes musicais e diálogos entre artistas. E a verdade é que cinco anos depois, o festival mantém a sua essência. O Atlântico “não fechou a música portuguesa numa caixa, mas abriu-a”, garante Sassetti. Ao mesmo tempo que mostrou a diversidade da música lusófona a estrangeiros, levou também o público lusófono a conhecer a casa. Mediatizou-se o festival, centraram-se atenções e despertaram consciências para a diversidade musical. Certo é que “embora se tenham quebrado barreiras, há um longo caminho a percorrer”, esclareceu Sassetti. Além de mostrar música e apostar em fusões e partilhas, o festival quer continuar a chamar o público lusófono à Philharmonie. E quer continuar a criar momentos mágicos e extraordinários que ficam na memória como o concerto de Bonga, na edição anterior, que levantou um auditório completo e o fez dançar, cantar e celebrar as tradições musicais lusófonas.
Gilberto Gil cancela digressão europeia
Gilberto Gil foi apresentado no programa inicial do festival, mas o músico cancelou toda a digressão europeia, inclusive o concerto marcado para a Philharmonie. Competia ao lendário tropicalista, acompanhado por três músicos familiares, encerrar a quinta edição do Atlântico, no domingo dia 18. Segundo informações da própria organização, está-se a trabalhar no sentido de reagendar o concerto para 2021.
Venda de bilhetes: os bilhetes estão disponíveis a 18 de agosto. Mais uma vez, na compra de dois bilhetes para concertos diferentes, a organização oferece uma entrada para outro concerto.