Tecnologia

Inteligência artificial: o próximo filão de ouro do Luxemburgo

O Luxemburgo habituou-nos a estender os seus músculos muito para além do seu peso. Foi assim com a metalurgia, depois com a banca e agora poderá acontecer o mesmo com a inteligência artificial (A.I.).

18 maio, 2023

Com pouco mais de 600 mil habitantes, o Luxemburgo é o mais pequeno Estado da União Europeia, mas é também aquele com maior riqueza per capita. Um pódio que começou a construir-se há quase um século e que os sucessivos governos foram capazes de manter e reinventar. E é isso mesmo que está a acontecer nesta altura. Numa corrida contra o tempo para encontrar o próximo filão para substituir um setor bancário que, apesar de manter-se importante e estável, já não é capaz de assegurar o nível de riqueza a que o país se habituou, o governo luxemburguês parece ter identificado uma das possíveis alternativas: Inteligência Artificial.

 

Nos relatórios “National Research and Innovation Strategy for Luxembourg” e “Artificial Intelligence: A strategic Vision for Luxembourg”, publicados recentemente, o governo luxemburguês, mostra que a aposta na Inteligência Artificial e em todo o ecossistema que gira em torno da gestão e proteção de dados é já uma realidade. O caminho privilegiado consiste em subvencionar as empresas privadas ligadas a este setor e, em paralelo, fomentar a investigação através de parcerias entre o setor privado e académico, através do National Research Fund e da Universidade do Luxemburgo.

 

Riscos

Nos últimos anos o foco tem sido na proteção da segurança, privacidade e ética associados à I.A. – um tema que continua a gerar bastante controvérsia a nível internacional, com a União Europeia a privilegiar, como é habitual, um caminho mais cauteloso e regulamentado do que os seus principais rivais nesta corrida: os Estados Unidos e a China. E é precisamente aqui que reside o maior risco para o sucesso desta aposta. Face a uma regulamentação excessiva e demasiado pesada, o Luxemburgo corre o risco de não conseguir atrair o talento e as empresas mais promissoras do setor.

Num relatório publicado há quase um ano, Daniel Castro e Michael McLaughlin, já alertavam para o facto de que “o maior risco para a UE e respetivos Estados-membros correm atualmente é que muitos não confiem na I.A., a vejam como uma ameaça e a rejeitem, em vez de a acolherem e promoverem”.

Oportunidades

Apesar dos riscos serem elevados, sobretudo no que se refere à regulamentação, algo de que a UE não costuma abdicar, o Luxemburgo tem alguns trunfos que lhe poderão ser bastante úteis. Apesar de contar com uma base de dados interna muito reduzida, devido ao tamanho do país, o Luxemburgo tem vindo a desenvolver nos últimos anos uma infraestrutura moderna e um ecossistema propicio ao lançamento de startups tecnológicas, em grande parte graças aos fundos públicos colocados à disposição de projetos privados. Outra vantagem importante tem a ver com a presença de um setor bancário muito forte e em acelerada transformação tecnológica, o que poderá facilitar o desenvolvimento do atrativo nicho tecnológico, as Fintech.

 

Primeiros resultados

De acordo com a empresa de market research, dealroom.co, o Luxemburgo atraiu 218 euros per capita de investimento em empresas tecnológicas e de I.A. Um valor que coloca o país na quarta posição mundial desta tabela de capital de risco liderada por Israel, Estados Unidos e Suécia. Nos últimos anos, empresas como OceanEx, plataforma para a transação de criptomoedas, Zortify, especializada em análise de personalidade destinada ao recrutamento de talentos, ou Travelsify, também no mercado da análise de dados, desta vez destinados à hotelaria, têm escolhido o Luxemburgo para desenvolverem as suas atividades. O volume ainda é reduzido, mas os resultados começam lentamente a surgir.  

 

Start-ups tecnológicas

A diversificação da economia há muito que faz parte das ambições luxemburguesas. Já nos tempos de Juncker, que se falava da necessidade facilitar a criação de empresas e de criar um ecossistema propicio à vinda de start-ups. Uma estratégia que, por vários motivos, nunca acabou por verdadeiramente descolar. Mas o cenário poderá mudar de figura nos próximos anos caso o país consiga atrair mais empresas tecnológicas.

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