Embora para muitos pareça contraditório, a esmagadora maioria da sociedade fica mais pobre quando, em épocas de crise, as pessoas decidem gastar menos dinheiro.
A incerteza em relação ao futuro, o receio de perder o emprego, de ser confrontado com despesas inesperadas são algumas das razões que levam a maioria das pessoas a optarem por poupar mais nestas alturas.
O mais curioso é que ao fazê-lo estamos a aumentar a probabilidade de estes receios se concretizarem. Como é que isto acontece?
Imaginemos um casal de operários a receber o salário mínimo que no fim do mês, depois de pagas as faturas, fica com 300 euros na conta. Com receio de perder o emprego, o casal decide cortar nas despesas que são essenciais: cafés, restaurantes, roupa, obras na casa, etc.
Imaginemos agora que a maioria das pessoas na mesma situação decide fazer o mesmo. O que vai acontecer aos cafés, aos restaurantes, e às restantes empresas que dependiam destes consumidores?
Duas hipóteses: as empresas mais robustas vão restruturar-se e despedir uma parte dos trabalhadores para adaptarem os custos à quebra das receitas. Já as mais pequenas vão à falência e todos perdem o emprego.
Imaginemos agora um jovem casal com salários mais elevados. Conscientes de que as coisas não estão famosas, decidem colocar 1.000 euros por mês de lado. Diminuem o orçamento para a roupa, viagens e deixam o carro novo para mais tarde. Mais uma vez, as restantes pessoas deste segmento decidem fazer o mesmo.
A história repete-se, desta vez afetando outros setores que dependiam destes clientes, como o comércio, as empresas do turismo, os concessionários, os fabricantes de automóveis, etc. Um ciclo vicioso que mais não faz do que agravar os problemas.
Os dois meses e meio de confinamento já custaram à economia luxemburguesa muitos milhões de euros. Nesta altura, se reagíssemos de forma racional, não alterávamos radicalmente os nossos hábitos e evitávamos o desmoronamento da economia. Continuávamos a ir comer fora e evitavamos que os restaurantes fechassem. Continuávamos a ir às lojas e evitamos que o comércio caísse. Continuávamos a fazer obras e mantínhamos os empregos na construção. Mas para isso precisávamos de olhar para o futuro como uma oportunidade e não como uma ameaça.
Vai certamente haver um antes e um depois desta pandemia que está longe de estar resolvida. O desfecho vai depender muito da atitude de cada um de nós. Temos dois cenários à escolha: o pessimista que antevê uma crise sem precedentes e que vai continuar fechado em casa a poupar à espera que alguém resolva o problema; o otimista que prevê uma retoma para breve numa realidade diferente da que conhecíamos e, em muitos aspetos, melhor.