Por incrível que pareça, ainda ninguém morreu a surfar as ondas de 30 metros que a cada inverno rebentam na praia mais famosa de Portugal: a praia do Norte, na Nazaré.
Quem tiver alguma curiosidade em conhecer melhor este fenómeno da natureza e os “loucos” que nela se aventuram, vai ficar surpreendido com toda a tecnologia de ponta envolvida, com o trabalho de toda uma equipa que está por trás de cada onda que se apanha, e com a determinação de quem está disposto a arriscar tudo, inclusive a própria vida, por uns segundos de glória. Nestas ondas só se atreve quem é génio e louco.
De certa forma, para a humanidade, esta pandemia tem sido como atirar para as ondas da Nazaré surfistas que passaram as últimas décadas a dormir na praia. Alguns ainda se fazem passar por génios, até se darem conta que, afinal, só eram loucos.
Cada onda é única, nenhuma é igual à anterior e só quando se lançam àquelas imensas montanhas de água é que as decisões são tomadas. Decisões que parecem de intuição, tomadas em milésimos de segundo, mas que na realidade resultam da aplicação de uma estratégia cuidadosamente preparada apesar da imprevisibilidade da natureza.
Passou-se um ano e ainda não há uma estratégia
Faz um ano que pandemia começou. Mas os governantes, os responsáveis da saúde, os cientistas e até os clientes da Netflix já há muito tempo que sabiam que ela ia chegar. No entanto, ninguém estava preparado…
No caso do Luxemburgo, não só não estávamos preparados com as infraestruturas necessárias, como escasseiam os médicos. E perante esse cenário, confina-se uma e outra vez até que aconteça um milagre. Um milagre sob a forma de vacina que, até ver, muitos têm recusado.
Na praia do Norte, este nível de amadorismo equivale a dizer que hoje não se vai para a água porque as ondas têm muita espuma. E no dia seguinte também não, porque rebentam para direita em vez de rebentarem para a esquerda. E assim, por diante, até que as ondas desapareçam. Desculpas típicas de quem não está à altura do desafio e, como tal, não devia estar ali.
No Luxemburgo vale-nos que, embora falte génio e coragem para ultrapassar desafios desta envergadura, ainda impera o bom senso. Conscientes da sua incapacidade em delinear uma estratégica para contornar a atual crise, os governantes confinam, aumentam as restrições e esperam, como todos os outros, por um milagre. Milagre esse que era suposto chegar no Natal, mas que, entretanto, foi adiado para o verão, e, ao que tudo indica, já não deve chegar este ano.
O bom senso é uma boa base, mas esperava-se mais de quem tem a responsabilidade de governar. Esperava-se que fossem capazes de analisar, estabelecer prioridades e tomar as medidas necessárias para antecipar situações que, se sabia, iam acontecer. Esperava-se que, em situações de stress e de impressibilidade como esta, fossem capazes de tomar decisões corajosas e definir uma estratégia a longo prazo que não esteja dependente dos relatórios que hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra.
Aqui, como no resto da Europa, faltam génios para surfar estas ondas e assim vai-se criando a tempestade perfeita para os loucos se lançarem.