Ele próprio assume que a sua eleição para vereador nas últimas eleições comunais foi uma surpresa. Mas nas próximas eleições a surpresa poderá ser ainda maior, naquela que é na cidade mais antiga do país.
Ricardo Marques foi um aluno exemplar e acabou por entrar num dos cursos de ingresso mais difícil em França – Psicologia, na universidade de Paris- Sorbonne. Entrou também no doutoramento, e todos os planos estavam formados para ficar em Paris. “No entanto havia esta sensação constante de saudade. Sempre que me metia no comboio e chegava a Echternach, sentia que estava em casa”, lembra. Foi também por isso que Yves Wengler, burgomestre da cidade, o convidou para integrar as listas do partido às eleições comunais. “Eu disse-lhe que não fazia sentido, todos os meus projetos passavam por França. Mas ele, que me conhecia bem, sabia que eu tinha ideias para transformar a minha terra e foi insistindo”, conta o agora vereador.
Demorou meses até aceitar o desafio e fê-lo com uma ressalva: não o colocariam em lugar elegível nas listas do CSV. “Wengler concordou, disse que gostaria simplesmente de me ter a bordo para contribuir com ideias e projetos – e de garantir um olhar de fora sobre a cidade”, lembra. Na noite das eleições, a 8 de outubro de 2017, foi votar a Echternach e ao final da tarde meteu-se no comboio para regressar a Paris. “Quando cheguei à Gare do Luxemburgo, recebi um telefonema do burgomestre a dizer que tinha de voltar para trás”, recorda. “Foi uma surpresa para toda a gente e para mim também”, recorda, e ainda abana a cabeça quando o diz. “Fiquei ali uns dias a pensar no que haveria de fazer, mas também pensei que a vontade do povo era soberana – e desrespeitá-la seria desrespeitar a democracia participativa.” Nos primeiros três anos de mandato, limitou-se às funções de conselheiro comunal. Em 2020, percebeu que era ali que queria estar e passou a vereador. Assume que um dia gostava de ser burgomestre, mas também admite que ainda precisa de ficar na sombra este mandato para acumular experiência. Mas e se for ele o candidato mais votado? “Então aí vou respeitar a vontade do povo. Se ficar à frente, não tenho outro remédio que não ficar à frente de Echternach”, diz.