Líderes

Aprofundar as relações comerciais entre Luxemburgo e Portugal é uma das prioridades

A economia vai continuar a marcar a agenda das relações diplomáticas entre os dois países, afirmou o novo embaixador de Portugal no Luxemburgo, Pedro Sousa e Abreu. Um dos pontos altos será a missão económica de Portugal ao Luxemburgo prevista para o

05 maio, 2023

Quais são as suas prioridades?

A nossa relação política com o Luxemburgo é excecional. Por isso, desejo focalizar a minha passagem pelo Luxemburgo em duas áreas que considero serem bastante importantes: a primeira tem que ver com a economia e com as nossas relações comerciais e a segunda com uma projeção maior da cultura portuguesa no Luxemburgo. Relativamente à primeira, há várias áreas em que podemos aprofundar o nosso relacionamento com o Luxemburgo: a área da alta tecnologia, porque o Luxemburgo tem créditos firmados nesta matéria, como nós em Portugal, e por isso faz todo o sentido que desenvolvamos estas sinergias para podermos ter uma presença económica portuguesa no Luxemburgo mais robusta e ter investimento luxemburguês em Portugal em consonância com aquilo que é a realidade da alta indústria tecnológica luxemburguesa. Na área das energias renováveis existem múltiplas oportunidades de cooperação, e é, portanto, um aspeto em que estamos a trabalhar ativamente. Também no que diz respeito à economia azul e aos oceanos, tenho notado que, da parte dos meus interlocutores no Luxemburgo, há um grande interesse nesse domínio. Julgo que haverá um campo bastante largo onde poderemos cooperar, criando riqueza, quer através da colaboração com instituições de ensino superior, quer através de iniciativas comerciais e industriais conjuntas, especialmente privadas. A segunda área tem que ver com a cultura, e a minha preocupação é a de trazer ao Luxemburgo os melhores exemplos do que é hoje e do que foi no passado a cultura portuguesa, no domínio museológico, no domínio da música e da literatura. Como sabe, Portugal tem um Centro Cultural na cidade do Luxemburgo, com um Plano de Ação relativamente vasto, com exposições e exibições da mais diversa natureza. Ora, desejo aproveitar esta mais-valia para ir um pouco mais longe no que toca a chegar também ao público luxemburguês. Para além do publico português, entendo ser muito importante dar a conhecer ao público luxemburguês a globalidade da cultura portuguesa.

Está no Luxemburgo deste janeiro, que conhecimento tem do tecido empresarial português?

Não o conheço ainda aprofundadamente; isso virá com o tempo. Mas tenho conhecimento suficiente para poder dizer que, em primeiro lugar, há uma presença empresarial portuguesa no Luxemburgo verdadeiramente importante e que contribui para a integração dos portugueses e para a riqueza do país em que se encontram. Contribui também para um relacionamento mais próximo entre a realidade económica e empresarial luxemburguesa e a portuguesa. Depois, noto também que há da parte deste tecido empresarial uma vontade de aprofundar ainda mais o relacionamento e as oportunidades de negócio entre Portugal e o Luxemburgo. Para isso tem servido, entre outras entidades, a Câmara de Comércio Luxemburgo-Portugal. E há outras iniciativas recentes. Como sabe, foi criado há poucos meses o Escala Business Club, que não pretende sobrepor-se a nenhuma outra estrutura já existente, mas complementar e diversificar os meios de reforçar as relações comerciais. O que me parece muito visível é a vontade de aprofundar o relacionamento económico, através da facilitação da instalação de empresas e negócios portugueses aqui no Luxemburgo, mas também do investimento direto luxemburguês em Portugal. Esta é uma perceção muito clara que tenho da vontade dos empresários locais e que corresponde à preocupação de que já falámos de um maior aprofundamento do nosso relacionamento com o Luxemburgo, através das estruturas facilitadoras desta colaboração, e que vai nos dois sentidos.

Estava prevista a realização de uma missão económica de Portugal ao Luxemburgo ainda este ano. Já há datas para a sua realização?

Pode acontecer não este ano, mas no próximo porque se entendeu que talvez fosse um pouco precipitado e muito próximo do que foi a missão do ano passado a Portugal, fazer uma missão idêntica ao Luxemburgo em 2023. O que está previsto é que essa missão se realize no primeiro semestre do próximo ano.

As trocas comerciais entre Portugal e o Luxemburgo têm vindo a aumentar, mas sente-se que ainda estão aquém do seu potencial. O que é que pode ser feito para as incrementar?

Podemos continuar a trabalhar no sentido que acabei de referir. A verdade é que, de 2021 para 2022, o nosso saldo positivo comercial com o Luxemburgo aumentou ainda mais. As nossas trocas aumentaram 15%, o que parece um resultado já bastante apreciável. Naturalmente podem aumentar mais, e não só naquelas áreas que possivelmente são as mais óbvias na exportação dos bens de consumo no Luxemburgo mais vocacionados para a comunidade portuguesa. Estamos já a ir bastante para além disso e passar para trocas de um outro nível de complexidade, nomeadamente de bens de alta tecnologia, que se me afigura ser uma das áreas prioritárias para a aposta das empresas portuguesas, no que diz respeito à sua internacionalização aqui no Luxemburgo.

Não se poderia ir um pouco mais longe nas relações económicas?

Podemos sempre ir mais longe em todos os domínios. Como disse há pouco, no que diz respeito às nossas relações políticas, elas são excelentes e têm-no sido sempre, independentemente da orientação dos governos que, num e noutro país, exercem o poder. Têm sido sempre muito boas e só há razões para que continuem a melhorar. No que diz respeito às outras componentes da relação bilateral, por melhor que sejam as relações, há sempre um espaço para serem desenvolvidas, aprofundadas e melhoradas. É precisamente este espaço, através da nossa imaginação e dedicação, que procuraremos melhorar ainda mais, como a questão económica e cultural, e os assuntos que nos ligam ao Luxemburgo e que têm que ver com a comunidade portuguesa, nomeadamente no que diz respeito ao dia a dia de cada português que está no Luxemburgo e que precisa de ajuda do Estado português, ou no que toca a um bom relacionamento com o Estado luxemburguês para resolver questões como, por exemplo, a segurança social e as reformas.

Essa é outra das questões que está por resolver…

Se existirem neste momento cerca de 200 casos para mim são já muitos. Gostava que não houvesse nenhum e que todos estivessem resolvidos. Mas se compararmos com a situação de há um ou dois anos atrás em que havia 2000 a 3000 casos por resolver, então neste momento encontramo-nos numa boa situação. Isso deve-se à ação, dedicação e responsabilidade dos funcionários que o Ministério do Trabalho e da Segurança Social de Portugal tem enviado para o Luxemburgo, a fim de, no quadro da Embaixada, ser resolvido um problema que durante muito tempo se arrastou. Esses funcionários têm tido um papel importantíssimo na resolução da grande quantidade de casos que estavam pendentes. Têm tido um papel importantíssimo e continuarão a ter. Trata-se, pois, de um trabalho desenvolvido até agora e que irá ter continuidade e espero, muito sinceramente, que a breve trecho estejamos a falar de um número praticamente insignificante de casos por resolver, pois toda esta dinâmica tem como objetivo acabar com as situações pendentes. De resto, quero sublinhar que tem havido da parte do ministro do Trabalho e Segurança Social luxemburguês, e dos serviços pelos quais ele é responsável, uma excelente colaboração connosco.

 

Marcelo quer “motivar os portugueses para o envolvimento neste processo eleitoral”

 

Só 15% dos portugueses estão inscritos para votar. A Embaixada tem algum plano para aumentar a taxa de participação dos portugueses?

Existe um plano que já antecede a minha chegada. Estamos a fazer tudo quanto julgamos ser possível e necessário para motivar a população portuguesa residente no Luxemburgo a votar, através do nosso site, de folhetos que temos no Consulado-Geral, através dos meios de comunicação social que têm repetidamente transmitido este apelo a que os portugueses votem e sejam eleitos nestas eleições comunais. Mas para isso é necessário registarem-se até dia 17 de Abril. O Governo português entende que é de uma extraordinária importância que os portugueses participem nestas eleições que têm um resultado direto na sua vida de todos os dias. Ao contrário de Portugal, as autarquias locais têm no Luxemburgo um poder e área de intervenção muito alargados, de tal forma que interferem e implicam diretamente na vida de todos os dias das pessoas, no que diz respeito à escolaridade dos filhos, ao saneamento, à saúde e ao ordenamento territorial, por exemplo. Há muitas aspetos da vida de todos os dias que são geridos pelas autarquias locais. Se os portugueses puderem influenciar estas eleições de forma a poderem escolher quem entendam que são as pessoas mais idóneas para servir estes interesses, só retirarão vantagens desse seu empenho, mas para isso é preciso votar e ser eleito.

O próprio Presidente da República de Portugal, que tenciona deslocar-se ao Luxemburgo dentro de algumas semanas, tem como uma das suas preocupações motivar os portugueses para o envolvimento neste processo eleitoral, justamente pelas razões que acabo de dizer. Quanto mais envolvidos estivermos, mais representados estamos e maiores benefícios podemos colher dessa representação. Esperamos que os portugueses residentes no Luxemburgo compreendam que este é de facto um assunto que lhes interessa e que participem devidamente neste ato eleitoral.

Um estudo recente revela que um em cada três portugueses se sente discriminado no acesso à habitação, trabalho e educação no Luxemburgo. O que pode ser feito para contrariar esta discriminação?

Espero que essa perceção por parte dos nossos compatriotas não passe disso, mas naturalmente que pode ser uma perceção baseada em casos concretos e experiências vividas no dia a dia. Julgo que os portugueses estão bem integrados na sociedade luxemburguesa. É natural que haja da parte do país de acolhimento uma visão que não tem de ser exatamente a visão que os portugueses têm de si próprios. Mas os portugueses devem de facto ser iguais a si próprios, e isso, naturalmente, facilitará a perceção que os luxemburgueses terão relativamente a eles. Tenderia a desvalorizar um bocadinho esses resultados da sondagem e diria que o que é verdadeiramente necessário é que nós, portugueses no Luxemburgo, sejamos iguais a nós próprios, insisto, e demos uma ideia de competência, seriedade, de integração e dignidade. Qualidades que, aliás, nos caracterizam. Se assim for, julgo que não haverá razões para que subsistam mal-entendidos.

Para terminar gostaria de deixar alguma mensagem à comunidade portuguesa?

Relativamente à comunidade portuguesa, o que posso dizer é que desejo que continue a integrar-se cada vez melhor e mais facilmente no Luxemburgo, que tenha sucesso na sua vida profissional e na vida académica dos portugueses mais jovens. E que, basicamente, a sua vida do dia a dia decorra sem sobressaltos, num processo de integração verdadeiramente tranquilo e pacífico de progresso social e pessoal.

 

 

Embaixador de Portugal no Luxemburgo, Pedro Sousa e Abreu

Tem um percurso internacional diversificado. Jurista de formação, pela Universidade de Coimbra, teve como primeira experiência profissional no estrangeiro a delegação portuguesa da NATO, em Bruxelas. Foi responsável pela transição das competências da União da Europa Ocidental para a União Europeia. Foi depois cônsul-geral em Luanda durante três anos, tendo acompanhado o último ano da guerra, no que foram “momentos bastante exigentes do ponto de vista profissional”. Esteve depois na Unesco, onde foi um dos responsáveis pela inscrição do Fado, da Universidade de Coimbra e das Fortificações de Elvas como património da humanidade, e da manutenção do Alto Douro Vinhateiro na Lista do Património Mundial. Esteve também durante três anos como Representante de Portugal na Palestina, “uma experiência a todos os títulos enriquecedora, mas também um pouco frustrante, exclusivamente por não se ver, infelizmente, uma saída para o processo de paz israelo-palestiniano”, refere o embaixador.

Antes de vir para o Luxemburgo esteve, durante um pouco mais de cinco anos, em Lisboa como diretor do Departamento Geral de Administração do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Líderes

As portuguesas que querem ter voz

Só 15% dos portugueses residentes no Luxemburgo estão inscritos para votar. E na capital do país a percentagem é ainda mais baixa. Para contrariar esta ausência de representatividade e de poder de decisão, um grupo de seis portuguesas lançou um event

Liz Braz

É a mais jovem candidata do LSAP e é a primeira vez que se candidata a umas eleições, mas não é propriamente uma desconhecida. O facto de ser filha do antigo ministro da justiça e vice-primeiro-ministro do Luxemburgo, Felix Braz, dão-lhe uma visibili

Fabrício Costa

Entrevista com Fabrício Costa, candidato às eleições comunais pelo partido déi gréng.

A história do empresário que não recusava emprego a ninguém

De sorriso afável permanente, mesmo num primeiro contacto, era como se conhecesse a pessoa desde sempre, e assim gerava a empatia própria e necessária para quem ambicionava singrar na vida e queria ser lembrado “como uma referência”. Rui Nabeiro, fun

Asti apela aos estrangeiros a recensearem-se em massa

Depois de uma “luta de 31 anos para conseguir este direito fazemos um grande apelo para que todos os estrangeiros se inscrevam e votem”, sublinhou Sérgio Ferreira, diretor político da Associação de Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI), na aprese

Última edição
Opinião
José Campinho2023. O ano dos portugueses?

Foram necessários mais de 30 anos para os estrangeiros finalmente conquistarem o direito de escolherem os responsáveis das autarquias onde residem. Um esforço, até agora, inglório. Mas há algo a mudar….