Bons vizinhos e aliados em muitos aspetos, o primeiro-ministro luxemburguês não apoia, no entanto, a proposta do presidente Emmanuel Macron no que diz respeito à classificação da energia nuclear como uma tecnologia verde. Sem essa classificação, os projetos de centrais nucleares não poderão no futuro receber os subsídios gigantes que os fundos europeus disponibilizam para a transição energética.
Nas declarações ao jornal de assuntos europeus ‘Politico’, Xavier Bettel considerou que o selo de ‘verde’ não deve ser aplicado a esta energia “que não é sustentável, nem segura, nem rápida”. Bettel considerou que “algumas pessoas estão a vender o nuclear como solução para tudo”, mas sublinhou que uma instalação nuclear leva pelo menos 10 anos a estar operacional – e é preciso chegar a 2030 com reduções para metade das emissões de gases com efeito de estufa.
Bettel lembrou que cabe a cada país decidir o seu ‘mix’ energético e a França poderá enveredar por este caminho, em vez de apostar mais nas energias eólicas e fotovoltaicas. Não pode é, nesse caso, para os projetos de energia nuclear, aceder aos financiamentos verdes.
A pressão de França para que o nuclear seja considerado energia limpa é antiga e vem desde a discussão da famosa Taxonomia, uma proposta de lei sobre a classificação das indústrias sustentáveis. A ideia do Eliseu tem recebido a oposição de organizações ambientalistas, mas é apoiada por alguns políticos e cientistas, em face das novas apostas na energia de fusão nuclear, mais seguras e sem criação de resíduos radioativos.
Troca de cromos: os carros com e-fuels pelo nuclear
À entrada da cimeira europeia de líderes, Bettel confirmou a indisponibilidade do Luxemburgo para apoiar Macron nesta matéria. E lembrou o acidente de Fukushima. “Temos tido acidentes a um nível internacional que são preocupantes e tiveram repercussões catastróficas para muitos países. E também temos um problema com o lixo nuclear. Ainda não sabemos como lidar com ele, por isso não podemos dizer que é seguro e sustentável”.
Em compensação, o chanceler alemão, Olaf Scholz poderá apresentar aos franceses um ‘quid pro quo’. Ou seja, se França apoiar a inclusão dos e-fuels na diretiva de proibição de venda de carros novos com motor de combustão até 2035, Berlim dará o voto ao nuclear como energia verde. Mas Macron, segundo o que tem dito à imprensa, não está disposto a voltar a abrir o dossiê dos motores que usam combustíveis fósseis. Nem ceder às pressões da Alemanha e da Eslováquia (o maior produtor mundial de carros, considerando o seu per capita).