Na escola foi muito complicado, naquela altura era diferente para os estrangeiros. Eramos portugueses, havia uma intenção clara do sistema educativo de nos encaminhar para um determinado caminho e também não podia contar com a ajuda dos meus pais, que trabalhavam nas obras e na limpeza. Tive a sorte de apanhar alguns professores que me apoiaram imenso e acabei por conseguir ir para a chamada “filiere 1” do ensino técnico que me permitiu mais tarde seguir os estudos superiores.
Tive um empurrão que não sei se merecia. Nomeadamente em alemão, disciplina em que tinha mais dificuldades, o professor teve de arranjar um estratagema para me conseguir passar. Naquela altura, havia pessoas que faziam o seu trabalho de uma forma mais do que humana. Hoje, creio que não seria possível.
Os meus pais queriam naturalmente que seguisse os estudos superiores, mas a motivação vinha sobretudo do meu lado. Uma coisa era certa: não queria fazer o mesmo trabalho que eles.
Não tínhamos uma vida fácil, mas ainda assim não tive pressa em ganhar dinheiro. Tinha a consciência que para conseguir algo tinha de estudar.
Ingressei na Escola Superior de Comércio, em Belair, mas acabei por não terminar, porque, mais uma vez, havia disciplinas como o alemão que para mim eram um grande entrave. No entanto, ao longo da carreira, nunca deixei de me formar, desde formações de estruturação jurídica e fiscal, dispensado pela sociedade de advogados da PwC legal, aos instrumentos de vida e securitização, dispensado pela sociedade de advogados ARENDT & MEDERNACH). É uma mais-valia que faz toda a diferença, nomeadamente para os chefes de empresas.
Comecei por trabalhar numa fiduciária em Esch, no departamento de contabilidade e fiscalidade. Foram três anos que me proporcionaram excelentes bases. O interesse pelo empreendedorismo veio por influência do professor de economia que também tinha um negócio e que me convidou para o acompanhar na gestão das suas empresas. Faltavam-lhe colaboradores e isso possibilitou-me ocupar-me não só da contabilidade, mas também da gestão. Foi uma excelente oportunidade para evoluir nessa área.
Naquela altura, a minha vida era aquilo, passava o tempo a trabalhar. Aos poucos foi-me passando alguns dossiês para eu ir tratando a título privado. Foi assim que fui construindo a minha carteira de clientes até que chegou o dia em que estava preparado para seguir o meu caminho. Ele sabia que eu tinha essa ambição e no fundo foi-me preparando para chegar lá.
Comecei por abrir um escritório juntamente com um contabilista belga. Cada um trouxe a sua carteira de clientes e criamos a Fiscalis, em Limpersberg. Durou cerca de cerca de 10 anos e foi uma passagem bastante enriquecedora. Chegou depois o momento de cada um seguir o seu caminho. Para mim uma coisa era muito clara: queria continuar a ter o meu negócio e é assim que nasce a fiduciária Excelia, faz agora 11 anos.