Líderes

Fabrício Costa

Entrevista com Fabrício Costa, candidato às eleições comunais pelo partido déi gréng.

04 junho, 2023

Foi na faculdade que surgiu o interesse pela política e pelo meio ambiente?

Tirei a licenciatura em política na faculdade Sciences Po, em Nancy. Tinha disciplinas em francês, inglês e alemão, era perfeito para mim. Permitiu-me continuar a desenvolver todas as línguas e implicar-me nas questões climáticas. Antes de ir para a faculdade já me interessava por estas questões, mas foi na disciplina de “International Politics of Climate Change” que percebi que queria aprofundar esses conhecimentos.

 

Entretanto foste para Lisboa estudar. Como foi a experiência?

Já no final do curso, optei por fazer um ano de Erasmus em Lisboa, na Universidade Nova. Ia todos os anos a Portugal de férias com o meu pai, mas não sabia como era viver lá. Acabei por me apaixonar por Lisboa e ganhar uma ligação ainda mais forte ao país. É uma cidade fantástica para estudar. Percebi também melhor os problemas que Portugal tem. Às vezes não nos damos conta da qualidade de vida que temos no Luxemburgo. A diferença entre os países é grande, mas dentro do próprio país há realidades muito diferentes. Assim que terminei a licenciatura fui 1,5 anos para Paris, para fazer um mestrado Política ambiental, no campus principal da Science Po. Ver outras coisas, abriu-me os olhos para outras realidades e a ser mais aberta e mais justa.

 

De onde veio o interesse pela política?

Escolhi esta área porque sempre me interessei pela política. Sempre fui uma pessoa politizada. Foi só no estágio de verão do mestrado que antecederam as eleições legislativas de 2018 que entrei em contacto com o partido e tive a oportunidade de me integrar e conhecer melhor o partido por dentro.

 

Foi nessa altura que percebeste que os Verdes era o partido certo para tua carreira?

Porquê os Verdes?

Mesmo antes já era o partido com que mais me identificava, mas com o estágio tive a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas. Em seguida fiz um segundo estágio que me permitiu acompanhar o final da campanha, as eleições e em seguida a negociação do programa da nova coligação. Foi ali que se escrever o programa para os próximos 5 anos. Foi um momento-chave para o partido e para mim.

 

Como é que chegaste à presidência dos jovens ecologistas?

Em 2020 fui eleito para o comité dos jovens verdes – um grupo de trabalho independente com posições que podem divergir das do partido e dois anos depois fui eleito co-presidente – são sempre dois, uma mulher e um homem para assegurar a paridade. Através deste cargo automaticamente passei a fazer parte do comité executivo do partido.

 

E a nível comunal?

A nível comunal, sou secretário e membro do comité da secção local. Somos o principal partido da oposição com cinco conselheiros comunais. Para as próximas eleições decidimos avançar com um candidato a burgomestre, aquele que achamos que está mais apto a fazê-lo: o François Benoit, que atualmente é conselheiro e deputado. Há 40 anos que o DP está no poder, já é altura de mudar.

 

Por que razão?

A nossa cidade tem um enorme potencial que não está a ser aproveitado, como o demonstram vários estudos. A qualidade de vida nos bairros, as áreas de lazer com espaços verdes, as habitações sociais que representam apenas 3% na Comuna mais cara do país, há muito a fazer…

 

Nomeadamente em termos de mobilidade…

Sem dúvida! A gratuidade dos transportes públicos foi um passo importante, mas é importante dar alternativas de mobilidade individual. As ciclovias são um exemplo. É preciso criar uma infraestrutura adequada, para que as pessoas possam começar a utilizá-las, mas em segurança. Essas coisas têm de ser pensadas, caso contrário os automobilistas ficam chateados com os ciclistas e vice-versa e dão-se os acidentes. As pessoas querem mudar, mas têm de ser criadas condições. Também precisamos de mais oferta de car sharing, que não está a ser desenvolvido como devia.

 

Comércio de proximidade

Outro tema importante é o desenvolvimento económico da cidade, não só do centro, mas de todos os bairros com comercio de proximidade, para diminuir os trajetos. Mas tem de ser criados espaços públicos mais atrativos, com mais locais de encontro. É isso que vai fazer a diferença relativamente aos centros comerciais. As pessoas gostam do centro com comércio.

 

Em termos energéticos, o Luxemburgo podia fazer melhor?

Se colocássemos painéis solares fotovoltaicos em todos os locais adaptados, a cidade podia não só cobrir as suas necessidades como podia exportar energia. Tem de haver uma maior integração, não só a nível nacional, mas também internacional. Outro aspeto importante é o armazenamento da energia captada.

 

E em termos culturais e de empreendedorismo?

Precisamos de mais espaços criativos. No Luxemburgo não há muita oferta sem ser institucional. Falta ligação aos espaços culturais. As startup são por definição criativas e combinar esses espaços com a cultura é importante. Se Differdange o conseguiu com o coworking 1535c por que razão o Luxemburgo não havia de conseguir?

Outra questão urgente é a falta de profissionais no artesanato. O nosso sistema escolar já não promove essa escolha, devia haver uma sensibilização logo na escola primária para as crianças conhecerem e valorizarem estas profissões.

 

Falta incluir os habitantes na participação

Queremos dedicar um orçamento a projetos feitos com a participação dos cidadãos. Não queremos limitar-nos a apresentar projetos finais. Queremos envolver as pessoas para que nos possam ajudar a desenhar o futuro da cidade. Queremos que o nosso programa chegue a todos e por isso fazemos os nossos flyers em quatro línguas. É muito importante que os cidadãos participem nas eleições e apelo a todos os portugueses a votarem nas próximas eleições Comunais.

 

Quando é que os estrangeiros vão poder finalmente votar nas eleições legislativas?

Continuamos a defender a participação dos estrangeiros nas eleições legislativas.

O referendo foi o que foi e é necessário respeitar, mas os referendos não são definitivos. As coisas evoluem.

 

 

 

Fabrício Costa

Nasceu no Luxemburgo, em Esch-sur-Alzette, filho de mãe luxemburguesa e pai português. Formou-se em Ciências, na reputada faculdade francesa Sciences Po e logo nessa altura começou a sua atividade política. Com apenas 27 anos, já é copresidente dos jovens Verdes e delegado parlamentar.

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