Pertence à geração que nasceu e fez a escolaridade no Luxemburgo. Como foi?
Os meus pais trabalhavam na restauração, em Echternach. Quando tinha oito anos o meu pai decidiu abrir um café em Wiltz e fomos viver para lá. Foi ali que fiz o ensino primário. No Norte havia menos portugueses, a maioria eram luxemburgueses. Nessa altura, ainda não falava bem luxemburguês e tinha dificuldades de concentração. Estava sempre nas nuvens, não me conseguia concentrar na escola, era um sonhador. Só mais tarde, quando foi diagnosticada uma ‘trouble d’attention’ ao meu filho é que compreendi que se tratava de um problema que afeta bastantes crianças. No meu tempo, tinha outro nome, chamava-se burro.
Como não havia classes, nem professores especializados para essas crianças, colocavam-me no fundo da sala para não perturbar a aula. No sétimo ano colocaram-me no ensino complementar destinado às profissões manuais, era esse o caminho que me estava traçado. Um dia o meu pai chegou a casa e disse-me que ia para um internato em Neufchateau, na Bélgica, e que era a minha derradeira oportunidade. A minha mãe nessa altura estava doente e não era fácil pagar o internato. Tinha 14 anos e percebi que tinha de fazer alguma coisa da minha vida.
Não foi difícil ficar longe da família?
A primeira semana foi um choque, mas depois acabei por gostar e passar uns anos fantásticos. Vês famílias privilegiadas, mas também vês crianças em situações muito mais complicadas do que a tua. O que os meus pais fizeram foi dar-me uma oportunidade. Na Bélgica o ensino era bom, havia regras. Ali estava enquadrado, ao contrário do que acontecia em casa, uma vez que os meus pais tiveram de trabalhar muito para construir duas vidas, uma no Luxemburgo e outra em Portugal.
A integração na Bélgica foi mais fácil?
Não é que tenha sido fácil, as diferenças sociais no internato eram enormes. Havia alunos luxemburgueses cujos pais tinham muito dinheiro, mas não tinham tempo de ocupar-se dos filhos. À segunda-feira chegavam com roupa nova e nós levávamos sempre a mesma. Nas férias de inverno iam esquiar e nós ficávamos em casa. Essas diferenças marcam-te, mas, por outro lado, tornaram-me mais forte…
E com mais vontade de singrar…
Quando tens uma vida difícil e tens de lutar pelas coisas, isso acaba influenciar a tua personalidade. O facto do meu pai ser muito trabalhador também me serviu de modelo e de inspiração. Tinha o café, trabalhava na Goodyear, ocupava-se dos filhos e da mulher doente. Era uma pessoa dura, mas fez de nós aquilo que somos hoje. …
E os estudos superiores?
Quando terminei o internato, aos 21 anos, tive a oportunidade de ir para o Ensino Superior, em Liège, mas a minha vontade de começar a trabalhar era mais forte. Aos 16 anos já ganhava o meu dinheiro, chegava à sexta-feira do internato e das 18 às 21 horas ia trabalhar para um restaurante. Assim que tirei a carta de condução, quando saía do restaurante, ainda ia trabalhar numa discoteca.
A independência começou cedo…
Fui eu que paguei a minha carta, as minhas primeiras roupas de marca, o meu primeiro carro. Raramente saía com os amigos, queria era trabalhar e ganhar dinheiro.
Até quando durou essa experiência?
Assim que terminei os estudos, também parei com a restauração. Queria outra coisa para o meu futuro. Foi útil ver como o meu pai geria os negócios e isso inspirou-me, mas queria seguir outra área. Tinha estudado para eletricista, ainda tentei enveredar por essa área, mas não gostei. Só tinha a teoria, mas faltava-me a prática. O agora ministro, Romain Schneider, que na altura trabalhava na Adem, em Wiltz, arranjou-me trabalho numa fábrica de alumínio em Clervaux. Ainda não era aqui que sonhava, mas precisava de juntar dinheiro para comprar um apartamento. Nessa altura, já fazia muitas horas e acabava por ter um bom salário. Quando ao final de um ano assinei um contrato definitivo, limitado à idade da reforma, foi um choque. Ganhava bem e estava entusiasmado com isso, mas não queria ter uma vida como a do meu pai que passou 31 anos na fábrica.
Mudaste novamente de área?
Em 1998, o meu primo apresentou-me um produto de uma companhia de seguros alemã com sede em Bruxelas. Continuei na fábrica e à noite ia trabalhar para a companhia de seguros para ver o que dava. Dediquei-me muito e passado um ano, quando percebi que tinha potencial, pedi 6 meses sabáticos na fábrica para me dedicar inteiramente aos seguros. Foi a melhor coisa que fiz. Foi aí que a minha carreira verdadeiramente começou.
As condições eram melhores?
Não tinha salário fixo, mas foi uma escola extraordinária para me tornar empreendedor. Tinha formações em psicologia de venda, fiscalidade, finanças, ensinavam-te o ABC do negócio. Fiquei lá 19 anos e meio e se a empresa não tinha fechado provavelmente ainda lá estava. A filosofia de trabalho era fantástica e tinha acesso às mentes mais brilhantes. Se posso dar um conselho a alguém que se quer lançar nesta área é começar pelo marketing de rede onde não tens garantia nenhuma. Quem consegue ter sucesso aqui, tem sucesso em qualquer lado.
O que te marcou mais nessa empresa?
Durante 20 anos, uma escola como aquela dá-te uma enorme preparação. Palavras como impossível ou vou experimentar não existiam. Ensinam-te a nunca te acomodares, nunca achares que já conseguiste e dão-te as formações necessárias para singrares.
Entretanto a companhia de seguros faz um run-off…
Em 2017 a empresa decidiu encerrar a atividade no Luxemburgo e na Bélgica. Recebi a indeminização a que tinha direito e fui sete semanas para Portugal com a minha mulher e com o meu filho. Geralmente não consigo ficar muito tempo de férias, começo a pensar neste e naquele projeto e quero é regressar ao trabalho, mas naquela altura precisava de fazer uma pausa e refletir no meu futuro. Tinha 20 anos de experiência, as formações, o network… tinha de pensar o que fazer com isso e a solução estava perto. Tinha 40 anos e foi o início de uma vida nova.
Qual foi a solução?
Peguei numa empresa que já tinha criado, a Albalux, e juntamente com a Vera (esposa) e o João (ex-colega na companhia de seguros), decidi desenvolver o ramo dos créditos. A esse juntou-se uma carteira de seguros que decidimos manter com outro parceiro e, entretanto, juntaram-se outros projetos que justificaram a criação de uma entidade mãe. Na companhia de seguros onde tínhamos trabalhado, o modelo de negócio consistia em criar uma rede de pelo menos cinco colaboradores responsáveis por outras cinco pessoas cada um, ou seja, uma equipa de 30 colaboradores. O meu objetivo é semelhante: criar um grupo com cinco empresas em setores diferentes, com cinco fontes de receitas diferentes. Mas essa diversificação só funciona se tiveres as pessoas certas contigo. Há negócios que já estão planificados há muito tempo, mas que ainda não lancei porque ainda não encontrei a pessoa certa.
O focos na formação também se manteve?
Sempre! Não sabemos o dia de amanhã, 85% dos alunos hoje vão formar-se em profissões que vão desaparecer e vão desempenhar funções que ainda não existem. Parar é morrer, tens de estar sempre a atualizar-te, e é por essa razão que o Estado incentiva as empresas a formarem os seus colaboradores.
Portugal faz parte dos planos?
Um dia gostava de ter a minha vinha em Portugal. No mundo virtual em que cada vez mais vivemos, perdemos o contacto com a realidade. No vinho encontro o contacto com a terra, com as aldeias onde o tempo parece que parou, com as pessoas que ainda te abrem as portas de casa e te oferecem o pouco que têm. Nos países ricos isso perdeu-se e mesmo em Portugal já não se encontra esse espírito em qualquer lado. Precisamos de regressar às bases, às nossas tradições. Não podemos construir o futuro sustentável sem raízes fortes.
“Realizar o seu sonho faz parte do nosso”
Uma casa é para muita gente o projeto da sua vida, daí o nosso slogan “realizar o seu sonho faz parte do nosso”. As pessoas ficam extremamente reconhecidas quando as ajudamos a concretizar esse sonho.
O processo é simples: o cliente vem ter connosco para obter financiamento para comprar um imóvel. Depois de analisarmos a situação do cliente e o bem que pretende adquirir vamos preparar um dossier com todas as informações necessárias para a obtenção de financiamento. Neste processo estamos a poupar trabalho aos bancos, que nos remuneram por isso, mas sobretudo aos clientes que não precisam de andar de banco em banco à procura de financiamento.
A outra grande vantagem reside no relacionamento privilegiado que temos com os bancos. Sabemos que tipo de clientes procuram e quais os critérios de cada um para a atribuição de crédito. Isto são informações que não estão ao alcance dos clientes e que fazem com que a probabilidade do crédito ser aprovado quando apresentamos um dossier seja muito mais elevada. Atualmente a nossa taxa de aprovação é de 70%, nenhuma corretora de créditos no Luxemburgo tem esta taxa de sucesso.
O terceiro aspeto importante é que, para o cliente, o custo é zero. Quem paga o nosso trabalho é o banco. Mesmo quando o cliente já tem conta há muitos anos num determinado banco, tem vantagens em passar por nós. Como temos um volume de créditos muito elevado, os bancos acabam por nos conceder melhores condições.
Em 2021, introduzimos 450 créditos, mais do que um por dia, no valor total de 154 milhões de euros.