Foi obrigado a parar por completo durante os meses de confinamento?
Fui obrigado a fechar as seis escolas de 15 de marco até 18 de maio, inclusive as aulas teóricas. Em 24 anos de carreira nunca vivi nada assim, nem durante a crise de 2008.
Recebeu ajudas?
As ajudas foram poucas, mas sempre é melhor do que nada. Já nas rendas, ninguém facilitou nada. Tive de continuar a pagar os alugueres, os leasings do camião, os encargos sociais. Felizmente tenho o resto da frota paga.
Como tem corrido a retoma?
Estamos com imenso trabalho em todas as escolas. Nas cartas, seja de carro ou de mota, estamos mais ou menos com um mês de atraso, e pelo que sei não estamos mal. Chegamos a pensar fazer aulas por vídeo, mas não estávamos à espera de ter tanta gente de uma vez. Para piorar as coisas tive o azar de perder um bom elemento que partiu o pé, logo passado uma semana.
Há falta de instrutores?
Neste momento há uma procura muito grande de instrutores para dar aulas. Os exames eram para ser em julho e passaram para setembro. Só em finais de outubro ou novembro é que há novos instrutores diplomados no mercado. Tenho um instrutor francês que obteve a equivalência no Luxemburgo e que começa agora em julho e, felizmente, tenho equipas muito dedicadas. É isso que tem permitido recuperar o atraso. Eu próprio continuo a dar aulas e nesta altura mais do que antes. Tanto que nem vou de férias.
Como tem sido a adaptação às novas regras de segurança?
Muitas vezes temos de mandar pessoas para casa porque não estamos autorizados a ter tanta gente nas salas. Depois há regras que não entendo: no restaurante, até dez pessoas podem comer juntas; nos aviões podem estar todos sentados uns ao lado dos outros; porque que razão é que numa sala de aula tenho de ter 1,5 metros de distância entre cada aluno? Não faz sentido.
Mas o mais complicado são as aulas práticas. Temos de recuperar o atraso com as pessoas que já estavam à espera mais aquelas que começam agora as aulas de condução. A procura aumentou exponencialmente e as aulas práticas são sempre individuais. É muito complicado de gerir.
As pessoas são compreensivas?
Pelo contrário, tirando algumas exceções, as pessoas em vez de serem mais compreensivas tornaram-se ainda mais exigentes. A pandemia ainda não acabou, ainda há muitas restrições, e a maioria das pessoas não compreendem que estamos numa situação muito difícil de gerir. Tenho inclusive um instrutor que chegou a ser multado por a máscara não estar bem colocada. É preciso imaginar o que é passar oito horas a trabalhar com a máscara colocada. É horrível!
Como é que vê o futuro?
Ninguém sabe muito bem como isto chegou cá e quais serão as verdadeiras implicações, mas uma coisa é certa: em quatro meses destruiu a economia de todo o planeta. Só espero que não haja uma segunda vaga. Se tivermos de voltar a fechar com as despesas a cair e sem faturar as coisas complicam-se a sério. A nossa vantagem é que o trabalho não desapareceu, acumulou-se. Não é como os restaurantes, que os clientes que não vieram perderam-se. O grande desafio para nós é gerir da melhor forma este enorme volume de trabalho. Também não posso sobrecarregar as pessoas. Prefiro formar aprendizes e reforçar as equipas.
Acredita num regresso à normalidade?
Temos de continuar a lutar e esperar que as coisas voltem à normalidade, embora ache que nunca mais será como antes. As pessoas veem-te e mudam de passeio, têm medo do contacto. Perdeu-se o contacto humano, já não se vê as pessoas a sorrir. São outros tempos.