Criada há sete anos pelo jovem empresário Miguel Carvalho, a Carvalho Constructions é uma das empresas do momento num setor cada vez mais competitivo. Com perto de uma centena de empregados, a estratégia passa por manter-se ágil e tornar-se mais eficiente. A digitalização ocupa um papel central nesta estratégia.
Que papel assume a digitalização num setor como o da construção?
É esse o caminho e nunca é cedo demais para começar, não há outra alternativa. As empresas que não acompanharem vão ter muitas dificuldades em impor-se. A própria União Europeia, nos concursos públicos, está a exigir um nível de digitalização cada vez mais elevado.
E no setor privado?
Com os clientes privados ainda é um pouco ‘old school’, mas compete também às empresas orientarem os seus clientes nesse sentido. De uma forma geral, os clientes não só compreendem essa necessidade como acabam por ficar mais satisfeitos com a qualidade do serviço. Por exemplo, os nossos orçamentos atualmente incluem imagens dos artigos. É um pequeno detalhe, mas que faz a diferença.
Em que etapa estão dessa transição?
Começámos há alguns anos, de forma progressiva. Muitas pessoas ainda estão habituadas ao papel e é necessário dar-lhes tempo para assimilarem e perceberem as vantagens dessa transição. Não devemos tentar fazer tudo de uma vez. Começamos com a digitalização da faturação, depois dos arquivos, a cloud, etc.. É um projeto para ir fazendo passo a passo.
Optaram pelo outsourcing ou por criar um departamento dedicado?
A empresa cresceu rapidamente nos últimos anos, mas não perdemos o foco naquilo que é o nosso negócio. A minha intenção foi e continua a ser manter uma estrutura o mais leve e ágil possível. À medida que vamos crescendo vamos rodeando-nos de prestadores de serviços que nos guiam e nos acompanham nesse processo. A filosofia é não abordarmos uma tarefa tão importante como a digitalização sozinhos.
Trabalham com vários programas ou estão todos integrados?
Atualmente temos um software para contabilidade, outro para a planificação, outro para salários, mas estamos a trabalhar com uma empresa encarregue de reunir todos os programas. É um software feito à medida das necessidades da empresa, que nos vai permitir gerir toda a documentação digitalmente e criar um dashboard personalizado para cada função. Isso vai permitir a cada empregado aceder imediatamente à informação que necessita para o exercício das suas funções.
Que papel assume a gestão de dados na digitalização da empresa?
A gestão de dados é importantíssima, mas só funciona se houver disciplina. Temos de formar as pessoas para os dados serem introduzidos e armazenados corretamente. O maior desafio é esse, assegurar a gestão e a disciplina de todas as pessoas que trabalham com esses programas.
O Luxemburgo proporciona as formações que as empresas do setor necessitam?
No setor da construção, no Luxemburgo, há muita oferta em termos de formação: temos o IFSSB (Institut de Formation Sectoriel), a Chambre de Métiers e a Lux Innovation, esta mais no âmbito da digitalização. Depois há ainda as formações internas com os nossos fornecedores sobre os novos materiais e equipamentos. Participamos em bastantes fóruns tanto a nível nacional como internacional para estarmos a par das tendências do mercado.
Existem ajudas para as empresas?
Sim, o Estado criou algumas ajudas, dentro de certos limites, destinadas à digitalização das empresas, nomeadamente através da Lux Innovation.
Como é que conciliam as formações com o trabalho?
Os processos de digitalização levam tempo a pôr em prática. Para fazer a transição tens de sacrificar tempo de trabalho e enviar os colaboradores para as formações. Esse é a meu ver o maior travão no processo de digitalização. Muitos chefes preferem avançar mais devagar para não paralisarem o funcionamento da empresa. E quanto maior é a empresa mais difícil é de colocar em prática.
Mesmo assim compensa?
Há vantagens que são difíceis de quantificar, mas que são óbvias. O acesso à informação, por exemplo, ficou extremamente rápido, alguns processos tornaram-se mais eficientes e os procedimentos de controlo também funcionam melhor. Os empregados são notificados que têm documentos a controlar e há menos esquecimentos, menos documentos perdidos.
É uma transformação complexa de implementar?
O principal desafio da digitalização não é a complexidade é o tempo. É um processo que passa por várias etapas: Temos de olhar para a digitalização como um investimento a longo prazo, a rentabilidade só se nota após um ou dois anos quando a empresa já estiver mais avançada no processo e quando as pessoas já se sentirem à vontade com os programas.