O primeiro passo começa no terreno, na escuta às empresas para encontrar as respostas mais adequadas às suas dúvidas e aos seus problemas. É aqui que entra a House of Entrepreneurship, uma instituição ligada à Câmara de Comércio luxemburguesa, que avançou com um projeto que tem permitido ajudar centenas de empresas: #ReAct. Em entrevista concedida à decisão, Emilie Pirlot, coordenadora do projeto, explica em que consiste este apoio.
O que é a #ReAct?
A #ReAct é um serviço gratuito que tinha sido lançado em 2008, com o objetivo de ajudar as empresas vítimas da crise financeira. Nessa altura, dos 50 dossiers que tratamos apenas uma empresa acabou por abrir falência. Entretanto, quando a crise pandémica surgiu, percebemos de imediato que as consequências para a economia e para as empresas iam ser ainda mais graves e decidimos relançar o serviço, alargando-o a todas as empresas e tornando-o mais completo.
Sente que a crise atual é pior do que a de 2008?
Sem dúvida! Só no primeiro mês atendemos mais de 5.000 telefonemas. Os empresários queriam saber como pedir as ajudas do Estado, como preencher os formulários para o desemprego parcial… informações práticas, mas essenciais para a sobrevivência de muitas empresas.
Quantos dossiês já trataram desde o início da pandemia?
Desde que começou o confinamento já recebemos mais de 700 chamadas. Desses contactos, foram efetuados 75 diagnósticos com recomendações personalizadas, mais 64 dossiês que ainda estão a ser tratados.
Têm equipa para dar resposta a todas essas solicitações?
Na #ReAct somos oito pessoas a tempo inteiro. Já permite fazer muita coisa, mas não podemos dar resposta a todas as necessidades sozinhos. Para isso contamos com uma vasta rede de voluntários em diversas áreas a apoiarem-nos. Ainda temos uma grande margem de progressão, os parceiros atuais permitem duplicar o número de dossiers se for necessário.
Como é que funciona na prática este serviço?
O primeiro passo é fazer um check-up pelo telefone ou por videoconferência, com a duração de aproximadamente uma hora, para identificar os desafios. Tentamos perceber se é um problema estrutural ou consequência do Covid-19, se está relacionado com dificuldades de entregas por parte dos fornecedores ou com a falta de pagamentos…. É uma análise de 360 graus para termos uma visão o mais completa possível da situação da empresa.
É através deste check-up que vamos perceber quais são os reais problemas da empresa para podermos passar à fase seguinte: as recomendações personalizadas.
O último passo, quando é necessário, é encaminhar as pessoas para os especialistas externos que trabalham connosco.
“DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA TEMOS ASSISTIDO A UMA ENORME VAGA DE SOLIDARIEDADE POR PARTE DAS PESSOAS E DAS EMPRESAS”
Quem são esses especialistas?
São profissionais de vários setores, desde gestores a advogados, que disponibilizam gratuitamente 5 horas de acompanhamento para ajudar empresas em dificuldades. Temos inclusive grandes empresas consultoras que colaboram connosco. Desde o início da pandemia temos assistido a uma enorme vaga de solidariedade entre as pessoas e as empresas.
O apoio jurídico deve ser particularmente necessário nesta altura…
Sem dúvida. Os advogados que trabalham connosco têm sido extremamente úteis, por exemplo, para renegociar o pagamento a fornecedores e aos bancos. Também há muitos empresários a perguntarem como proceder com o proprietário relativamente aos alugueres. Há muitos pedidos para a redução ou adiamento das rendas, mas também temos de perceber que, do outro lado, há um proprietário com um crédito a reembolsar e os advogados são uma ajuda preciosa neste diálogo.
Outra questão recorrente é o que acontece se deixar de haver trabalho para tantos empregados e a empresa precisar de despedir pessoal? São questões complexas que devem ser tratadas com a ajuda de profissionais.
Qual é o estado emocional dos empresários atualmente?
Varia bastante de caso para caso. Alguns estão mesmo no fundo e sem capacidade de reação, outros estão mais otimistas e reativos. Depende de vários fatores.
Nas empresas mais pequenas, em especial em setores como o da horesca, do artesanato e do comércio, os níveis de stress acabam por ser mais elevados. Inclusive para nós, emocionalmente não é fácil. Lidamos diariamente com pessoas que investiram tudo o que tinham, em alguns casos centenas de milhares de euros, e que de um dia para o outro ficaram sem nada. Há situações muito complicadas.
As empresas mais pequenas, com estruturas mais leves, deviam, à partida, poder adaptar-se mais facilmente às novas circunstâncias. Porque é que são as mais afetadas?
As empresas maiores têm uma estrutura que permite reagir e responder às crises de outra forma, com maior distanciamento e frieza. Nas pequenas empresas, quando está em causa a subsistência dos donos e de pessoas muito próximas, o lado emocional, é mais complicado de gerir. Esse stress impede-as de analisar a situação com a frieza necessária e de tomar as medidas mais adequadas. Essa é uma das nossas funções.
Qual é o principal enfoque?
Tudo o que é redução de custos é transversal. Em alturas como esta as empresas precisam de optar por estruturas o mais leves possível. A nível estratégico, focalizamo-nos bastante na digitalização. A venda em linha, por exemplo, é uma boa solução para muitas empresas, mas muitos negócios precisam de se reinventar e cada caso é um caso.
Restruturar uma empresa implica quase sempre algum investimento e muitos empresários têm receio de recorrer aos empréstimos bonificados caucionados pelo Estado e de ficarem ainda mais sufocados financeiramente…
É verdade que os avanços disponibilizados para esses investimentos são empréstimos, mas não têm prazo para serem reembolsados. As empresas começam a pagar após um ano apenas se a sua situação financeira o permitir. Houve empresas em 2008 que recorreram a estes empréstimos e que só começaram a pagar passados oito anos. O objetivo não é sufocar as empresas nem retirar-lhes de imediato os lucros quando estes regressarem.
Como é que a situação tem evoluído ao longo das últimas semanas?
No início de maio, quando se começou a falar de desconfinamento, houve uma fase de otimismo, mas que rapidamente se transformou em pânico quando as lojas, cafés e restaurantes reabriram e não havia quase ninguém.
Acha que o pior ainda está para vir?
À medida que os negócios retomarem a atividade e for necessário pagar os alugueres em atraso as coisas podem complicar-se. É necessário por as empresas a funcionarem com estruturas mais leves.
Mensagens de esperança de vários empreendedores
Uma das vocações da #ReAct é procurar pistas estratégicas para relançar o negócio. Uma das técnicas utilizadas são os depoimentos de outros empresários sobre as suas experiências através de curtos vídeos - uma forma de transmitir uma mensagem de esperança. Os workshops temáticos por videoconferência - entre 3 e 5 por semana - é outra ferramenta bastante utilizada. Para ter acesso a estas conferências e workshops, basta consultar o site https://www.houseofentrepreneurship.lu/ e inscrever-se.
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