Empreendedores

“Só as melhores empresas vão sobreviver. É a lei da economia”

Ainda falta muito para o apito final. “As empresas só devem voltar a ter as receitas de antes da crise na segunda metade de 2022”, prevê Nicolas Buck, president

21 julho, 2020
Foto Chris Karaba
Foto Chris Karaba

Empreendedores

“Só as melhores empresas vão sobreviver. É a lei da economia”

Ainda falta muito para o apito final. “As empresas só devem voltar a ter as receitas de antes da crise na segunda metade de 2022”, prevê Nicolas Buck, president

Por 21 julho, 2020

Quanto aos números da crise nas empresas “ainda é muito cedo” para saber qual o verdadeiro impacto. Certo é que, até agora, o desemprego já cresceu mais que na crise de 2008. Neste momento “há que fazer tudo para restaurar a confiança dos consumidores e das empresas”. Urgente é trazer de volta aos escritórios os trabalhadores porque não podemos “subestimar” a importância de trabalhar em conjunto. 

 

As empresas dizem que sofreram uma redução de atividade superior a 25% na sequência das medidas de confinamento. Já há estimativas das perdas das empresas até agora?

Não, ainda é muito cedo. Depende muito dos setores, alguns foram muito mais afetados do que outros. Nas áreas que exigem um contacto humano, que necessitam de transações face a face, nos setores em que se vende e se compra, muitas atividades encerraram.

Hoje já sabemos que houve uma desaceleração económica que é particularmente pronunciada em vários setores da economia. Mas o que mais me preocupa é saber quanto tempo vamos precisar para regressar ao nível de atividade que tínhamos em fevereiro de 2020, tendo em conta as consequências das ajudas económicas e financeiras que foram aprovadas pelo Governo.

 

Quantas empresas já fecharam as portas desde o início desta crise?

Ainda é muito cedo para avaliar. Temos de ter em conta que há empresas que encerram a atividade e outras que vão à falência. Mas as falências só deverão acontecer mais tarde.

É preciso avaliar outros indicadores para medir o impacto desta crise. Neste momento há menos investimento, as empresas estão a recrutar menos e há uma redução dos contratos de trabalho. Não podemos olhar apenas para o indicador das falências.

O que constatamos é que houve um grande crescimento do número de desempregados, entre fevereiro e maio. É o maior aumento registado desde há muitos anos no Luxemburgo. É muito mais elevado do que o registado na crise de 2008.

 

As medidas anunciadas pelo Governo são suficientes para a assegurar o futuro das empresas?

Penso que a medida do desemprego parcial foi uma boa iniciativa. As medidas de ajuda diretas são mais úteis e tudo o que são empréstimos, são instrumentos menos utilizados. Mas só vamos poder fazer um balanço mais tarde, nos próximos 24 meses. Estamos nos dez primeiros minutos de um jogo que terá 90. Penso que até vai haver um prolongamento.

 

Que outras medidas deveriam ser tomadas para evitar a falência das empresas?

Há que fazer tudo para restaurar a confiança junto dos consumidores e das empresas. Por outro lado, temos que pensar que nem todas as empresas serão salvas. As melhores vão sobreviver e as que têm pior performance vão fechar. Mas isso é a lei da economia.

Quantas empresas pensa que vão fechar?

Ninguém lhe pode dar esses números. Podemos disponibilizar dados relativamente ao crescimento da economia e à percentagem de desempregados, mas não o número de empresas que vão fechar,  que é apenas um dos indicadores. Temos que analisar o investimento, o crescimento do emprego. Depois há muitas empresas que se mantêm, mas que, em vez de terem 30 trabalhadores, no final de 2020, terão apenas 17. Isso tem impacto em toda a sociedade e é que é preciso analisar, não é só a morte das empresas.

 

O primeiro-ministro luxemburguês afirmou que a economia do Grão-Ducado estava preparada para o embate. Concorda?

Penso que, em parte, é verdade. Mas o Luxemburgo é um país pequeno. Se os países grandes, como a Itália, a França e mesmo parte da Alemanha, têm dificuldades, o Luxemburgo, que tem uma economia muito aberta, baseada nas trocas europeias e internacionais, também vai ter problemas.

 

Neste momento já há uma grande percentagem de empresas com os funcionários a trabalhar à distância. Acha que a maioria das empresas vai adotar o teletrabalho no futuro?

Penso que houve uma evolução nesse sentido. Mas é necessário ver a importância do ponto de vista psicológico de estar num grupo, de trabalhar em conjunto numa empresa todos os dias. Não devemos subestimar este aspeto. Quando surgem momentos difíceis nas empresas é importante estarmos rodeados de pessoas com quem possamos falar e que nos motivem. Quando estamos sozinhos em casa e surgem problemas acabamos por ver tudo mais negro.

É bom trabalhar em casa, mas esse sentimento de pertença a um projeto, a uma equipa, é muito importante. Não quero comparar uma empresa a uma família, porque são completamente diferentes, mas ambas têm em comum o fato de nos momentos difíceis estarem juntas.

 

Em que sentido?

É muito importante para as pessoas levantarem-se e poderem ir para o trabalho. Mesmo para as crianças é importante verem os pais saírem todos os dias para irem trabalhar. É em casa que aprendemos os valores do trabalho. Quando vemos os pais a trabalhar muito na vida, percebemos que é importante trabalhar e fazer esforços e que a vida é dura. Nessa perspetiva, não é a mesma coisa se os pais ficarem em casa de pijama em frente ao computador, em vez de se vestirem para ir trabalhar. As próprias crianças têm de regressar à escola porque necessitam do contacto, da amizade, da competição uns com os outros. Como poderemos desenvolver um ser humano em isolamento?

 

O teletrabalho transformou bairros como Kirchberg ou Cloche D’Or em bairros fantasma...

É preciso acelerar o regresso aos locais de trabalho. Esses bairros fantasma são um grande problema. Os assalariados têm de ser incentivados a regressar. Há toda uma infraestrutura que depende de deles. Se não voltarmos rapidamente aos escritórios, vamos deixar de ter restaurantes para comer.

 

Quanto tempo vai demorar até as empresas voltarem ao mesmo nível de receitas anterior à crise?

No final de 2021 penso que ainda não estaremos ao nível de janeiro de 2020. No melhor dos cenários, talvez a partir da segunda metade de 2022.

 

E no resto da Europa?

É preciso ver que há países, como a Itália, por exemplo, que já tinham menos atividade económica em fevereiro de 2020, do que em 2002. 

Por outro lado, há países como Portugal que têm uma grande oportunidade em termos de produção de energias renováveis. Portugal e Espanha que, habitualmente estão menos bem posicionados na Europa em termos geográficos, com uma história diferente da nossa, estão hoje melhor posicionados para fazer essa transição energética, com as energias eólicas e a fotovoltaica.

 

Por outro lado, são países que vão sofrer bastante com a redução do turismo que era determinante para as suas economias…

Esses países vão sofrer no turismo, mas podem reinventar-se em torno das tecnologias digitais, como já acontece em Lisboa e nas grandes cidades portuguesas com a criação de startups, apoiadas pelo bom sistema universitário que existe em Portugal. São países que também podem apostar na produção de energias renováveis para o norte da Europa.

 

Quais são as grandes tendências para o futuro?

Tenho uma abordagem liberal da economia e, por isso, torna-se muito difícil fazer projeções que dependem de milhões de atores na economia e nas empresas. O que é importante fazer numa crise - seja para as empresas seja para as pessoas - é focalizar-se em duas coisas: proteger a liquidez e preparar o futuro. Quando estamos em dificuldades é necessário proteger a liquidez, ter dinheiro na conta bancária, quer as empresas, quer as famílias. É importante avaliar como essa liquidez aumenta ou diminui, em relação aos riscos. Em segundo lugar, é preciso investir no futuro. Nestes períodos de crise há que investir em novas soluções, ideias inovadoras nas empresas. Também para os indivíduos é preciso investir em novas competências para se prepararem para o mercado de trabalho do futuro.

 

De que sente mais falta nesta altura?

O que mais falta me faz é poder viajar, visitar os meus clientes, encontrar clientes novos. O que me faz falta é esse dinamismo. Tudo é lento. Em vez de conduzir a 120 km/hora, andamos a 60. E isso põe-me louco.

 

Qual é a primeira coisa que vai fazer quando tudo voltar à normalidade?

A primeira coisa é dizer a todos: “Voltem ao escritório!”. O trabalho em equipa vai permitir aumentar a produtividade e dar mais atenção aos assalariados. Quando não vemos as pessoas, nem sabemos se querem continuar na empresa ou não. Um líder tem de saber como fazer evoluir as pessoas. Imagine um jovem que entre agora no mercado de trabalho, hoje em dia.  Como é que ele vai aprender a estar numa reunião?

Tudo isto é importante na vida profissional.

 

Perfil

Nicolas Buck é um empreendedor de sucesso que venceu o prémio “Empreendedor do ano” da Ernst & Young, em 2004.

Começou a sua carreira profissional na empresa familiar a Gráfica Victor Buck, mas rapidamente evoluiu para prestar serviços para o setor dos fundos de investimento. Assim criou a Victor Buck Services que acabou, depois, por vender ao grupo Post Luxembourg. Em 2012 criou a SEQVOIA, uma empresa que desenvolveu uma ferramenta para a gestão da documentação regulamentar para os fundos de investimento. Entre 2016 e 2019 foi presidente da Fedil. Hoje lidera a União das Empresas luxemburguesas (UEL). “O desenvolvimento da economia deve ser inclusivo e beneficiar as pessoas que para ele contribuem”, diz. Com 51 anos diz que ser empreendedor é uma tarefa “sem fim”.

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