Economia

Preço das casas duplicou em apenas uma década

Para este ano, prevê-se uma estabilização do aumento dos preços para valores idênticos aos anteriores à pandemia (cerca de 10%), que continuam a ser bastante superiores à média europeia (cerca de 5%).

14 outubro, 2022

O Luxemburgo continua a liderar o ranking europeu da evolução dos preços do imobiliário. De acordo com o mais recente relatório do gabinete europeu de estatística, Eurostat, no primeiro semestre de 2021 o preço das casas subiu 13,6%, comparativamente ao mesmo semestre do ano anterior. Apesar de continuar a ser extraordinariamente elevada, esta subida acaba por ser menos acentuada do que a registada em 2020 (17%).

 

Se recuarmos uma década os números são ainda mais impressionantes. Entre 2010 e 2020 o preço das casas no Luxemburgo mais do que duplicou (111%), situando-se muito acima da média europeia (35%).

Este aumento é ainda mais surpreendente se tivermos em conta que, em 2010, os preços do imobiliário no Grão-Ducado já eram dos mais elevados da Europa.

Apesar de os valores serem menos impressionantes, este fenómeno não é exclusivo do Luxemburgo. O aumento do preço das casas tem vindo a acentuar-se na maioria dos países da União Europeia (UE), nomeadamente em Portugal.

 

De acordo com o Eurostat, entre 2010 e 2020, os preços das habitações aumentaram em 23 países da UE e diminuíram em quatro (Grécia, Chipre, Espanha e Itália), com os maiores aumentos a verificarem-se na Estónia, no Luxemburgo e na Hungria. Portugal surge na décima-primeira posição da tabela com um aumento de 40%, muito acima da média europeia (25%).

Esta curva ascendente tem vindo a acentuar-se desde 2015, batendo recordes em vários países durante a pandemia.

 

Rendas evoluem mais lentamente

De acordo com o gabinete de estatísticas europeu, a partir do terceiro trimestre de 2011, os preços das casas e os arrendamentos na União Europeia começaram a seguir caminhos bastante diferentes: as rendas continuaram a aumentar lentamente até 2021 enquanto os preços das casas “flutuaram significativamente”.

Diz o Eurostat que, depois de uma queda acentuada entre o segundo trimestre de 2011 e o primeiro trimestre de 2013, os preços das casas permaneceram mais ou menos estáveis ​​nos dois anos seguintes (2013 e 2014). A partir de daí registou-se um rápido aumento e desde 2015 os preços das casas têm crescido a um ritmo muito superior ao das rendas.

Feitas as contas, entre 2011 e o segundo trimestre de 2021, as rendas na UE aumentaram 14,2% e os preços da habitação 25% - quase o dobro. No Luxemburgo o aumento foi de 111% para o preço das casas e 44% para o valor das rendas. Em Portugal, o preço das casas cresceu 44%, enquanto as rendas subiram 15%.

Este aumento extraordinário dos preços na última década reflete um otimismo cada vez mais generalizado por parte dos investidores de que um imóvel amanhã já vale mais do que hoje.

Uma tendência que tem vindo a alastrar-se nos últimos anos pelo resto da Europa. Ao comparar o segundo trimestre de 2021 com o mesmo período de 2010, vemos que os preços das casas aumentaram mais do que as rendas em 18 Estados-membros da UE.

 

Taxas de juro e estilo de vida

Convidado pela Inowai a analizar a situação do mercado imobiliário luxemburguês, François Trausch, CEO d'Allianz Real Estate, gestor de um portefolio de 79,2 mil milhões de euros, considera que não se pode falar de uma especificidade luxemburguesa. “A subida dos preços do imobiliário faz-se sentir em várias metrópoles europeias e por vários motivos: taxas de juros baixas, crescente urbanização e, ainda, uma maior transparência do mercado de investimento relativamente ao imobiliário”.

Mas as razões vão mais além do que a política monetária e as suas implicações nas taxas de juro e na inflação. Segundo François Trausch “as pessoas, sobretudo as mais jovens, movimentam-se das cidades médias em direção às metrópoles mais importantes. Vemos isso no Japão, na Suécia e em várias outras partes do mundo. A esse fenómeno junta-se a tendência de aumento do número de famílias monoparentais. As pessoas casam-se cada vez mais tarde, ou por e simplesmente, não se casam e preferem ter cada uma o seu apartamento isso faz aumentar a necessidade de habitações. Estamos a afastar-nos cada vez mais do modelo clássico: uma família, uma casa. Isso também conduz a um aumento dos preços”, frisou.

 

Amplificação dos efeitos no Luxemburgo

Tendências que acabam por ter efeitos mais visíveis no Luxemburgo. “Aqui estes diferentes elementos conjugam-se mais do que em outros lugares desencadeando efeitos mais visíveis”, explica. O crescimento da população, “que pode passar rapidamente de 630 mil a 1 milhão de habitantes é um elemento importante. Até porque os luxemburgueses têm uma atração particular pelo imobiliário, com essa classe de ativos a estar mais presente nas carteiras de poupança do que em outros países. É desta forma que vejo a problemática do aumento dos preços do imobiliário no Luxemburgo”.

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