Comecemos pelo básico, o que é Private Equity?
Private Equity é o investimento através de fundos especializados em empresas não cotadas. Estes fundos adquirem 8, 12 ou até mais empresas, com o intuito de as valorizar durante um período de tempo. O objetivo é sempre vendê-las no espaço de 3 a 5 anos e com isso realizar uma mais-valia. A venda pode ser realizada a outros investidores, aos próprios fundadores da empresa, ou até numa oferta pública na bolsa de valores. Uma sub-variante do Private Equity mais conhecida do grande público é o Venture Capital (Capital de Risco) que investe sobretudo em start-ups.
Porquê investir em Private Equity?
Private equity é um investimento na economia real. Estamos a pôr dinheiro diretamente nas empresas, que vão crescer ou expandir para novos mercados e por sua vez vão contratar pessoas, pagar mais impostos e contribuir para o crescimento da economia. Para além de que é um investimento que tem tido uma boa rentabilidade, 8% a 12%, e que no Luxemburgo ainda está pouco divulgado como classe de ativos.
A quem se dirige?
Podemos dividir o perfil dos investidores em dois grandes grupos: privados e institucionais.
No Luxemburgo não temos investidores institucionais (seguradoras, pensões, etc.). O que temos sobretudo são family Offices - pequenos escritórios de gestores de fortuna que investem em nome de uma família -, e os chamados HNWI (High Net Worth Individuals - pessoas com elevado nível de riqueza) que têm acesso ao Private Equity geralmente através da banca privada.
Estamos a falar de que valores?
Para aceder diretamente a um fundo de private equity é preciso investir pelo menos uns 3 a 5 milhões de Euros - o que pressupõe que a carteira de investimento desse investidor seja bastante maior dado que deve ser apenas um dos ativos na carteira. São fundos que gerem pelo menos uns €70 milhões e que preferem ter poucos investidores devido aos custos inerentes.
No entanto, nos últimos anos têm surgido alternativas que permitem aceder a este tipo de investimento com valores mais reduzidos. É o caso, por exemplo, dos clientes da banca privada que indiretamente através de fundos que agregam vários investidores, podem aceder a esta classe de ativos a partir de 250 mil Euros ou de algumas plataformas especializadas na internet que permitem aceder a partir de 100 mil Euros. Em França foi até recentemente criado um fundo dirigido ao grande público que permite investimentos a partir de 3 mil Euros!
Outra das possibilidades é ir ao mercado de ações e investir em empresas de Private Equity. No Luxemburgo, por exemplo, temos a Luxempart, uma empresa cotada na bolsa do Luxemburgo desde 1988, e que se ocupa desse tipo de investimentos.
Há um valor de base para começar a investir em Private Equity?
No Luxemburgo, para ser considerado um investidor informado é necessário ter pelo menos 125 mil euros à disposição, é o valor mínimo para legalmente ter acesso a este tipo de investimento. Mas atenção, este valor deve representar apenas uma parcela da sua riqueza uma vez que existe um risco real associado. Investir todas as poupanças em Private Equity é demasiado arriscado.
Os chamados investidores institucionais como os fundos de pensões ou os fundos soberanos, investem hoje entre 4% a 12% em fundos de Private Equity.
É essa a percentagem ideal?
Tudo depende do risco que se procura. É uma classe de ativos que deve fazer parte de um portfolio assim como acções, obrigações ou outros títulos. Nos últimos anos, sobretudo devido à baixa das taxas de juro, o private equity tornou-se particularmente interessante o que levou os investidores institucionais a aumentar a sua exposição até 12%.
Outro aspeto importante do Private Equity é o período temporal...
A participação num fundo de Private Equity é um compromisso para 8-10 anos. É esta perspectiva de longo prazo que lhe confere a possibilidade de esperar pelos bons negócios e a capacidade de passar por períodos de crise sem a volatilidade de outras classes de ativos.
Para as empresas, também faz sentido investir em Private Equity?
Uma empresa com tesouraria disponível pode investir em fundos de Private Equity ou mesmo diretamente noutras empresas. Existem várias empresas que fazem um “Corporate Venture Capital” dedicado a investimentos estratégicos, empresas da mesma indústria com interesses em comum.
A quem é que os investidores recorrem para esse tipo de investimento?
Varia consoante o tipo de investidor. Os HNWI costumam recorrer à banca privada, que geralmente exige um mínimo de meio milhão de euros na conta. Os clientes interessados podem aceder a este tipo de investimento, nomeadamente através do chamado ‘Pooling’, que consiste em reunir um determinado número de clientes com algum capital para investir num fundo de Private Equity.
Qual o primeiro passo a dar para um investidor português interessado em PE?
Um investidor pode começar por consultar se o seu banco tem algo produto específico de Private Equity mas pode também contactar diretamente empresas gestoras de Private Equity, especialmente algumas que permitem diversificar o investimento por vários fundos. Aproveito igualmente para recomendar o canal de Youtube da LPEA onde temos muitos vídeos que ajudam a melhor compreender esta classe de ativos.
Luxembourg Private Equity & Venture Capital Association (LPEA)
A LPEA é uma associação empresarial privada financiada através das cotizações dos seus membros. Temos uma pequena equipa de cinco pessoas a tempo inteiro, empenhados em formar uma comunidade de profissionais. A associação representa quatro segmentos: buy out (comprar um negócio estabelecido e vender), Venture Capital (start-ups), Private Debt (baseado em contratos de empréstimos), e Infraestruturas (investidores em projetos como aeroportos, por exemplo) e tem 28 grupos de trabalho temáticos, desde ESG, legal, finanças, recursos humanos, etc. A missão da LPEA é criar um ecossistema que favoreça o crescimento do sector no Luxemburgo. Recentemente, por exemplo, realizou uma feira de emprego reservada a estudantes e profissionais que queiram trabalhar no sector.
Entre vários objetivos, a associação trabalha neste momento para que o Private Equity se torne mais acessível, para que mais equipas de investimento se localizem no país e para que novos profissionais adquiram as competências necessárias ao exercício da profissão.