Antes de tudo, os números. No final de outubro havia mais de 11 mil vagas disponíveis na Agência de Desenvolvimento do Emprego (ADEM) e "atualmente cerca de 75% da mão-de-obra no Grão-Ducado é de outra origem que não luxemburguesa. Entre esses trabalhadores estrangeiros, cerca de 60% são trabalhadores transfronteiriços", sublinha Michel Beine, professor de Economia Internacional da Universidade do Luxemburgo e membro do Conselho Científico da fundação IDEA. O economista defende a necessidade de mudanças na política de imigração para atrair mão-de-obra qualificada de fora da União Europeia (UE).
A verdade, como sublinha Beine no seu artigo intitulado "Mão-de-obra estrangeira qualificada no Luxemburgo: o papel da política de imigração", é que a população residente no Grão-Ducado não é suficiente para ocupar as vagas existentes e atrair talentos para o país, sobretudo extra-comunitários (de fora da UE), é uma tarefa hercúlea. Por isso, o economista defende que a política de imigração deve ser suficientemente atrativa para facilitar a entrada destes profissionais.
"Muitos setores em que a economia luxemburguesa se especializou, como a gestão de fundos, serviços financeiros ou de logística empresarial, para citar apenas alguns, devem recrutar constantemente trabalhadores com conhecimentos aprofundados para garantir a sua sustentabilidade e desenvolvimento", lembra Michel Beine, que evoca os números acima apresentados no seu artigo: 75% da mão-de-obra no Grão-Ducado é estrangeira e 60% são trabalhadores transfronteiriços – nem sequer residem no país, por isso não são considerados imigrantes.
90% dos imigrantes são comunitários
Dos 260 000 residentes estrangeiros, apenas 29 000 são extracomunitários. Uma pequena fatia justificada pelas restrições impostas pela política de imigração do Luxemburgo a todos aqueles que não são cidadãos da UE. O economista defende, por isso, que, dada a escassez de trabalhadores em vários setores, se torne mais fácil obter um visto de trabalho permanente para estes trabalhadores qualificados (destacamento por razões de trabalho) e que seja mais simples obter o estatuto do trabalhador transferido temporariamente. Sugere ainda que se proceda a uma atualização da lista de profissionais em défice no Grão-Ducado (a última lista data de 2015).
Desemprego cai abaixo do nível pré-Covid
Esta penúria de mão-de-obra qualificada acaba por ter um impacto relativo na taxa de desemprego, que em novembro recuou para os 5,3%, "abaixo do nível pré-crise", divulgou o Statec. A 30 de novembro, o número de candidatos inscritos na Agência para o Desenvolvimento do Emprego (ADEM) era de 15 232. Em comparação com novembro de 2020, o valor representa uma diminuição de 16,1% (menos 2.927 desempregados). Já o desemprego de longa duração (inscritos há mais de 12 meses na ADEM) diminuiu 12,4% no espaço de um ano, mas ainda representa 51% do número total de pessoas à procura de emprego no Grão-Ducado.
Dependência de médicos e enfermeiros não-residentes preocupa
Cerca de dois terços dos enfermeiros e um quarto dos médicos vive fora do Luxemburgo. Uma situação desconfortável, conforme concluiu um relatório da Comissão Europeia e da OCDE que traçou o perfil de saúde do país. "No decorrer da fase inicial da pandemia, a dependência de profissionais de saúde estrangeiros tornou o Luxemburgo particularmente vulnerável ao risco do encerramento de fronteiras com a Bélgica, França e Alemanha", lê-se no relatório. Por outro lado, o país reagiu rapidamente à pandemia e estava "relativamente bem preparado", avalia o estudo.