Os preços das matérias-primas aumentaram em muitos casos vertiginosamente, o custo da energia necessária para as empresas e indústrias funcionarem seguem a mesma tendência e a falta de mão-de-obra levou a uma inflação significativa dos custos salariais das empresas. Razões mais do que suficientes para provocar um aumento generalizado dos preços.
Economistas, investidores e políticos têm debatido se esta elevada inflação é um fenómeno passageiro que vai diminuir com o abrandar da pandemia ou se vai fazer parte do novo normal.
- A situação atual
No último ano, quem comprou um carro novo, quem encomendou uma nova cozinha ou quem está à espera que lhe façam obras na casa, apercebeu-se provavelmente que os prazos de entrega e os preços já não são tão estáveis como estávamos habituados.
Mas não são apenas os consumidores a sofrer com a atual situação. Se a pandemia representou e continua a representar um desafio gigantesco à capacidade de sobrevivência e adaptação de muitos negócios, a subida do preço da energia e a escassez de componentes essenciais estão a levar muitas empresas luxemburguesas à exasperação.
Os fabricantes têm de lidar com uma série de variáveis e de problemas, para as quais não estavam preparados, a começar pela escassez de componentes essenciais, como os chips eletrónicos, e a forte subida dos preços das matérias-primas.
A crise energética é outros dos grandes problemas. Em setores que requerem muita eletricidade ou gás, a subida dos preços é, por vezes, intransponível. Incapazes de repercutir o aumento das faturas energéticas aos clientes, vários produtores europeus de amoníaco, componente essencial dos fertilizantes, fecharam temporariamente as fábricas, em vez de produzirem com prejuízo.
Noutras partes do mundo, a escassez de energia obriga mesmo à suspensão da atividade. Na China, os cortes de eletricidade afetam mais de metade do país. Em terras de Sua Majestade a situação é ainda mais crítica, com os efeitos do Brexit a tornarem-se cada vez mais visíveis.
- A origem da inflação
A recuperação dos preços do petróleo, que triplicaram desde a primavera de 2020, é uma das razões para o acentuado aumento da inflação. Mas não foi só o petróleo a aumentar vertiginosamente no último ano. O preço da eletricidade na Europa duplicou e o do gás triplicou desde o início de 2021.
Há ainda outras razões, menos óbvias, mas cujo impacto se faz sentir cada vez no poder de compra das pessoas. O aumento da procura – sobretudo por parte das multinacionais, capazes de influenciar os preços – aliado à escassez de mercadorias, e inclusive de contentores e barcos, fizeram com que a procura de muito produtos atualmente seja muito superior à oferta e isso acaba por inflacionar os preços.
O custo do transporte marítimo, por exemplo, responsável por uma grande parte dos bens que nos chegam às mãos, explodiu no último semestre e está a pesar cada vez mais no custo de vida da generalidade dos países. Em vez de 2.000 euros, um contentor vindo da China chega a custar 10 mil. Um aumento exponencial provocado pelos desequilíbrios despoletados pela pandemia.
- Os efeitos
Até agora, o desejo de recuperar o consumo perdido durante os meses de confinamento tem sido mais forte do que o aumento dos preços, com os gastos das famílias a impulsionarem a recuperação económica.
Mas o aumento adicional dos preços pode ser nefasto para as carteiras das famílias. A subida do preço de bens essenciais como o gás e a eletricidade afetam diretamente a confiança das famílias e colocam pressão adicional no orçamento das pessoas com rendimentos mais modestos. Existe, portanto, um risco real de que a inflação acabe por travar o consumo das famílias e a recuperação global.
Taxas de juro
A taxa de inflação na zona euro atingiu nos últimos meses do ano passado máximo de 13 anos. Mesmo a inflação subjacente (core), que exclui itens mais voláteis como os preços da energia e da alimentação, acelerou para perto de 2% em agosto.
Apesar das garantias dadas pela presidente do BCE, Christine Lagarde, os mercados financeiros estão a antecipar que a Europa siga o exemplo dos Estados Unidos e opte por uma primeira subida das taxas de juro no segundo semestre deste ano. A confirmar-se, a Euribor irá atrás, com impacto nos créditos imobiliários a taxa variável.
É à taxa Euribor que está indexada a maioria dos créditos no Luxemburgo e em Portugal, designadamente os créditos à habitação com taxa variável – e pequenas variações no indexante podem refletir-se em agravamentos significativos das prestações a pagar.