De acordo com as últimas projeções do Organismo Nacional de Estatística, Statec, este ano a economia luxemburguesa deverá recuar entre 6% e 12%, sendo que o valor mais baixo pressupõe um regresso rápido à normalidade e o mais elevado, um confinamento prolongado. À data do fecho desta edição (20 de junho) a tendência parece ser para uma retoma lenta da atividade económica até ao final do ano tornando improvável uma recessão superior a 8%. As previsões relativas ao impacto da crise sanitária nos cofres do Estado apontam já para o pior resultado de sempre, quando ainda apenas está decorrido metade do ano. De acordo com o último relatório do Organismo Nacional de Estatística, Statec, o mercado de trabalho e as finanças públicas são, para já, as principais vítimas da atual crise.
Indústria com quebras históricas
Uma das consequências mais imediatas da crise foi o recuo da produção industrial que caiu para níveis idênticos a 1990. Embora esta quebra seja transversal a toda a União Europeia (-30%), o Luxemburgo foi um o país mais afetado, com um recuo de 44%. Este péssimo resultado deve-se essencialmente a uma quebra abrupta da procura, na sequência da crise pandémica que paralisou a economia mundial. No entanto, em janeiro, antes do início da crise, já eram notórios o abrandamento, com a produção a recuar 9,2% face ao mesmo mês do ano anterior.
Bancos mais resilientes
A boa notícia, para já, é que setor financeiro – que esteve na base da última crise e que continua a ter um grande peso no desempenho económico do país (cerca de ¼ do PIB) – é aquele que tem sofrido menos com a crise sanitária (recuo da atividade de 10%), evitando assim males maiores.
No entanto, os riscos de que também a banca venha a tornar-se um problema não desapareceram. Caso se confirmem os receios de uma crise económica profunda e prolongada, os incumprimentos em massa poderão novamente abalar o setor, complicando ainda mais a retoma. Mesmo assim, é provável que o Luxemburgo seja bastante menos afetado do que a maioria dos restantes países europeus.
Para já, em termos gerais, a atividade económica caiu cerca de 25%. Uma queda acentuada, mas inferior à da média europeia: -30%. Alguns dos setores que continuaram a funcionar durante o confinamento chegaram a registar quebras de atividade na ordem dos 90%. Números assustadores que vão demorar anos a recuperar.
Sétima economia mais resistente
Existem, no entanto, algumas razões suficientemente sólidas para não alarmar. A margem de financiamento do Estado luxemburguês para atuar em contraciclo, injetando liquidez nas empresas e aumentando o investimento público (sobretudo no setor da construção, um dos grandes pilares da economia), permitem olhar para o futuro com menos pessimismo. Aliás, em vésperas da pandemia, o Índice de Resiliência Global do FM 2020, tinha voltado a colocar o Luxemburgo entre os países melhor preparados para enfrentar e adaptar-se a uma eventual crise. Dos 130 países que participaram neste estudo, o Luxemburgo destaca-se na estabilidade política, na produtividade e nos reduzidos níveis corrupção, ocupando a sétima posição. Melhor só mesmo os países nórdicos (Noruega, Suíça, Dinamarca e Finlândia) – que, para além destes aspetos, lideram em matéria de transição energética. Os outros dois países à frente do Luxemburgo são a Alemanha e a Suíça, cujas economias, também elas bastante implicadas nas energias renovais e na proteção do meio ambiente.
Menos pessimistas
Após uma queda histórica no mês de abril de 24 pontos, o índice de confiança dos consumidores subiu para -17 em maio, consequência no anúncio do fim do desconfinamento. Este indicador do Banco Central do Luxemburgo avalia a opinião dos consumidores relativamente à situação económica do país, à sua situação financeira e da sua família e à sua capacidade de poupança.
As entrevistas realizadas entre 4 e 18 de maio, demonstram um pessimismo menos acentuado relativamente à evolução da economia do país.
Estado tranquiliza Comunas endividadas
O governo anunciou um pacote de ajudas no valor de 90 milhões de euros para ajudar as Comunas mais endividadas na sequência da crise pandémica. Dias antes do encontro com o primeiro-ministro e com o ministro do Interior, Emile Eicher, presidente do sindicato das Comunas, havia manifestado a sua preocupação relativamente ao estado das tesourarias comunais, chamando a atenção para a necessidade do Estado compensar a acentuada quebra das receitas das Comunas.
Salários em queda
O Organismo Nacional de Estatística (Statec) estimou em cerca de 140 mil o número de trabalhadores que viram os seus rendimentos diminuir durante o período de confinamento. Na nota de conjuntura de junho, o Statec dá conta de uma forte desaceleração do mercado de trabalho, adiantando que os salários deverão diminuir cerca de 5% este ano, chegando mesmo aos 8%, nos trabalhadores do setor privado. Esta diminuição deve-se sobretudo ao facto de grande parte dos trabalhadores no Luxemburgo terem estado em regime de desemprego parcial durante o período de confinamento, durante o qual só recebiam 80% do salário.
O Statec antecipa um impacto gradual da crise pandémica no mercado de trabalho até ao último trimestre do ano, altura em que este deverá começar a recuperar.
Risco de sobre-endividamento
A liga Médico-Social alertou para o risco de um aumento do sobre-endividamento no Luxemburgo, provocado pelo esperado aumento do número de falências e do desemprego. Em declarações à Rádio Latina, a responsável do serviço de aconselhamento da Liga Médico-Social, Christian Schumacher, alertou para o facto de ainda não estarem a ser sentidos os verdadeiros efeitos da crise remetendo para o final do verão uma visão mais concreta da situação financeira das famílias. Christian Schumacher aproveitou para aconselhar todos aqueles em dificuldades para pagarem as faturas a contactarem os serviços sociais da respetiva Comuna, alertando para o elevado número de pessoas que ao verem os seus pedidos de empréstimo recusados no Luxemburgo recorrem a instituições de crédito de risco na Bélgica que cobram juros muito superiores.
Economia sem margem para novo confinamento
Embora tanto o primeiro-ministro como ministro da Economia (ler entrevista nesta edição) já tenham vindo a público garantir que não haverá novo confinamento, pelo menos, não nos moldes do anterior, a incerteza e o receio de um novo lockdown continua a pairar no país. Desta vez foi Luc Frieden, presidente da Câmara do Comércio luxemburguesa, e ex-ministro das Finanças, a apelar ao governo para que seja igualmente intransigente na proteção da economia. Em entrevista à radio estatal 100.7, Luc Frieden sublinhou a importância de manter um equilíbrio entre a saúde e a economia. Estas declarações surgiram numa altura em que vários países, como Portugal e o próprio Luxemburgo, apresentam sinais de uma segunda vaga epidémica. O presidente da Camara do Comércio alertou para os riscos que um novo confinamento iria trazer para a economia do país, a começar pela falência das muitas empresas que já se encontram em situação muito complicada.