Vírus chegou ao Luxemburgo mais cedo
Várias pessoas que viveram um inverno particularmente complicado em termos de gripe já suspeitavam que provavelmente esta não tinha sido uma gripe como as outras. Vários casos de gripes que se prolongaram durante mais de um mês com sintomas mais graves do que é habitual, mesmo em pessoas mais jovens, tinham sido reportados entre dezembro e fevereiro, ou seja, muito antes do primeiro caso no Luxemburgo ter sido identificado a 29 de fevereiro. Agora chegou um novo elemento que vem reforçar esta tese: testes realizados à água no dia 25 de fevereiro revelaram a presença de Covid-19. Já em França, alguns dos testes realizados que deram positivo remontam a dezembro.
Confinar cedo foi uma decisão acertada
A estratégia do governo luxemburguês era simples: evitar que a vaga de contaminações levasse os hospitais e centros de saúde ao colapso. Ou seja, achatar a curva epidémica à medida que, numa corrida contra-o-tempo, o governo ia aumentando a capacidade de resposta do sistema nacional de saúde. Em paralelo, era colocada em prática uma vasta campanha de comunicação para sensibilizar a população para ficar em casa e minimizar os contactos. Uma estratégia de deu bons resultados. “À data de hoje não podemos dizer que vencemos o vírus, mas conseguimos reduzir os seus efeitos”, sublinhou Xavier Bettel, na conferência de imprensa para a apresentação das novas ajudas, acrescentando estar certo terem sido tomadas as medidas certas. “Só tínhamos um objetivo, puxar o travão de mão. Agora a estratégia é reestabelecer a normalidade”, sublinhou.
A acompanhar o primeiro-ministro, Paulette Lenert, ministra da Saúde, acrescentou que “olhando para trás, esta crise mostra-nos o quão complicado é tomar medidas sem saber se são as acertadas ou não. Fomos obrigados a reagir rapidamente e os números mostram que conseguimos escapar a uma catástrofe”, congratulou-se.
Confinar tarde foi uma decisão errada
Enquanto a Europa continental trancava as portas e sacrificava a economia para proteger a saúde dos seus cidadãos, um país decidiu ser diferente: a Suécia. Convencido que todos estavam errados e que os Vikings eram mais inteligentes do que os outros, o governo sueco decidiu optar por uma via diferente: responsabilização social em vez de confinamento. Dias depois, o Reino Unido fazia o mesmo. Mas não durou muito. Duas semanas depois, Boris Johnson, que acabaria inclusive por ser infetado chegando mesmo a ingressar nos cuidados intensivos, anunciava uma reviravolta (tardia) e introduzia o confinamento também no Reino Unido.
Orgulhosamente sós, os suecos continuaram a viver como antes: com distanciamento social, sem beijos nem abraços, ou seja, nada de novo, por terras nórdicas. Esta estratégia viria a custar caro: em junho a Suécia somava perto de 20 mil infetados e quase 2 mil mortes. Três vezes mais do que os vizinhos dinamarqueses e quatro vezes mais do que a Noruega e a Finlândia, que tal como o resto da Europa tinham imposto medidas de confinamento desde o início da pandemia.
À medida que os países europeus iam libertando as medidas de confinamento, após semanas consecutivas de novas infeções em queda, a pressão aumentava na Suécia face ao número de mortes que continuava a aumentar. A teimosia durou três meses. No início de junho o primeiro ministro sueco, Stefan Löften, reconhece que houve falhas na gestão da pandemia e decide abrir um inquérito.
Desconfinar é decisão matemática
Ultrapassada a primeira fase do confinamento destinada a evitar um pico de contágios que provocasse o colapso dos serviços médicos, os governos passaram a decidir manter ou levantar o confinamento com base num cálculo de contágio. Dois rácios entram em consideração: o Ro e o Rt. O Ro mede o número de contágios que acontecem quando não há medidas de precaução, o Rt calcula o número de contágios num contexto onde são aplicadas medidas de segurança, como o uso de máscaras e o distanciamento social. Qual é o rácio a partir do qual os países decidem levantar o desconfinamento?
Não há um valor comum a todos os países. Há países que só levantam o confinamento quando este rácio é inferior a 1, ou seja, que cada infetado, em média, não origina outro caso. No entanto, países como o Luxemburgo e Portugal, acrescentam outros rácios a esta difícil decisão: a capacidade de testagem e a taxa de ocupação das unidades de cuidados intensivos.
As máscaras ajudam
Foi um dos temas mais controversos durante o período de confinamento. Nas primeiras conferências de imprensa, a ministra da Saúde e primeiro-ministro admitiam não terem máscaras suficientes para toda a população, mas desvalorizavam a situação garantindo que o uso de máscara não protegia do contágio e que em certos casos era mesmo desaconselhada. Uma posição apoiada nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Semanas mais tarde o uso das máscaras era não só aconselhado, mas inclusive obrigatório em locais públicos, sob ameaça de multa.
Uma mudança radical de posição que deixa as pessoas sem perceber afinal para que serve a máscara. A posição atual do Centro Controle de Doenças europeu e norte-americano é que se toda a população usar máscaras, estaremos todos mais protegidos. Também a OMS passou a recomendar o uso de máscaras, justificando a mudança de posição com “evidências observacionais” que justificam o seu uso, apesar de continuar a não existir evidência científica robusta.
Nem todos apresentam sintomas
No vai e vem de verdades que no dia seguinte deixavam de o ser sobre um vírus que primeiro não se transmitia entre humanos, mas depois sim; que não afetava as crianças, mas que afinal até podia; que não matava pessoas jovens sem outros problemas de saúde, mas que afinal não era impossível; que as máscaras não protegiam, mas que agora eram obrigatórias; que o contágio ocorria apenas entre pessoas com sintomas febris, mas que afinal até podia ser transmitido por pessoas aparentemente de boa saúde, esses “perigosos” assintomáticos.
A vacina pode nunca chegar
Nunca na história da humanidade foram colocados tantos meios à disposição da comunidade científica para tentar encontrar uma vacina para um vírus. Segundo as contas da Organização Mundial de Saúde (OMS), havia em junho pelo menos 123 projetos candidatos a uma vacina, 10 dos quais já se encontram em fase de ensaios clínicos. Notícias animadoras, mas ainda com muitas reservas. Na melhor das hipóteses, isto é, mesmo que algum destes ensaios fosse bem-sucedido, demoraria pelo menos um ano até a vacina estar disponível. Na pior das hipóteses – que infelizmente tem um nível de probabilidade elevado – podemos nunca vir a ter uma vacina verdadeiramente eficaz. Existem desde há muitos anos pelo menos sete coronavírus que infetam humanos e para os quais nunca foram descobertas vacinas que garantam imunidade. E convém não esquecer que existem outros vírus conhecidos há várias décadas, como o vírus da Sida, por exemplo, que apesar de toda a pesquisa continua sem resposta.